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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

A excelência no ensino ultrapassa questões puramente acadêmicas e/ou estruturais

Atualizado: 7 de out. de 2023

O SINAES é o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior no Brasil, um sistema criado em 2004 pelo Ministério da Educação com o objetivo de avaliar a qualidade dos cursos de graduação, a instituição de ensino superior e o desempenho dos estudantes.


Ele é composto de três componentes principais:


  1. Avaliação dos cursos de graduação que busca aferir as condições de ensino, dos recursos disponíveis, a organização didático-pedagógica, o perfil docente, infraestrutura e projeto pedagógico.

  2. Avaliação das instituições, uma aferição da qualidade global das instituições, considerando sua infraestrutura, recursos didático-pedagógicos sua missão e responsabilidade social.

  3. Avaliação de desempenho dos estudantes, usando o ENADE.


Os resultados das avaliações são utilizados para aprimorar a qualidade da educação superior, fornecendo subsídios para a elaboração de políticas públicas, além de ser referência na escolha de cursos e instituições de ensino.


Após a entrada da IES no Sistema Federal de Ensino, nenhum curso inicia suas atividades sem a autorização governamental. Após a devida análise ele recebe o credenciamento que faculta a IES emitir diplomas aos graduados. Além do reconhecimento inicial, as instituições devem se submeter regularmente ao processo avaliativo para renovar essa permissão.


O processo atribui um Conceito de Curso graduado em cinco níveis, sendo os valores iguais ou superiores a três indicadores de qualidade satisfatória. Organização didático Pedagógica, corpo docente e tutorial e infraestrutura constante no Processo Pedagógico de Curso são aspectos submetidos à avaliação, de forma presencial ou virtual.


Leia sobre o tema:


Experiências ruins são amplamente compartilhadas


Além dos critérios técnicos indicativos de qualidade de um curso de graduação (ou pós-graduação) providos pelo SINAES, outro componente importante faz parte do processo de escolha de uma instituição de ensino. Igualmente importante para a decisão está a percepção de valor pelo aluno, família e sociedade.


O público esclarecido tem opiniões básicas formadas sobre as instituições de ensino e já aprendeu que pode remediar suas dúvidas perguntando e discutindo nas mídias sociais. Nesses ambientes ele pode descobrir sobre a qualidade acadêmica, estrutura física, cursos oferecidos e modalidades, corpo docente, grade curricular, custo-benefício, além de parcerias e oportunidades oferecidas.


Os temas de interesse da comunidade e eventos ocorridos circulam nas redes, tornando essencial que as instituições de ensino acompanhem o debate e façam boa gestão de suas imagens. Hoje se tornou bastante comum que as pessoas compartilhem experiências pessoais e suas percepções nos canais virtuais e uma pesquisa simples em mecanismos de busca pelo nome da instituição revelará diversos relatos do que ocorre em seu dia-a-dia.


Considerando que as experiências insatisfatórias são difundidas com fluidez muito maior, torna-se essencial que as instituições conheçam esses ambientes e promovam a gestão de danos. Tanto a adoção de medidas satisfatórias quanto a omissão em fornecer respostas ágeis para quaisquer ocorrências que fujam às normas e ao bom convívio na comunidade serão rapidamente difundidas nas diversas mídias disponíveis.


Podemos fazer referência aos episódios recentes de assédio moral, sexual, ofensas físicas, atos e abusos contra a honra, racismo, homofobia e xenofobia, todos com ampla cobertura na mídia. Juntam-se a estes os episódios de machismo, que, embora não tipificados como crime, repercutem negativamente contra a instituição de ensino, principalmente se não devidamente repreendidos.


É necessário passar o corpo docente pelo mesmo crivo. Um histórico de professores abusivos ou omissos academicamente torna-se conhecido do público externo ao curso, forçando a instituição a adotar uma cultura de não silenciamento ou indiferença contra a vítima, se afastando do corporativismo e adotando práticas positivas de construção de um ambiente inclusivo.


A imagem de um organismo transparente, que encara os problemas, acolhe as intervenções da comunidade e dá tratamento efetivo a tudo aquilo que afronta o direito de qualquer um de seus membros contribui para a formação de uma imagem forte e positiva da instituição. Essa não pode ser meramente uma tática de resguardo de eventuais processos judiciais, mas a construção coletiva de uma postura solidária que, evidentemente, deve ser conhecida por toda a comunidade.


É bem estabelecida a dificuldade de se erguer e construir a imagem de uma instituição qualquer junto a seu público alvo. Percepção de marca é um conceito abstrato, um conjunto de opiniões subjetivas e nem sempre puramente racionais sobre um nome, algo de construção difícil e gradual. No entanto pode ser destruída facilmente, mesmo que de modo injusto, principalmente considerando o poder das mídias sociais.

Regimento escolar – atos de indisciplina e crimes


Os Regimentos Escolares devem prever atos de indisciplina a serem resolvidos internamente pela instituição de ensino, administrativamente e de acordo as diretrizes da Secretaria de Educação. Em caso de crime, no entanto, providências extras se tornam necessárias, obrigando a instituição a se reportar à autoridade competente. Junto a elas as medidas administrativas cabíveis devem ser tomadas à altura do comportamento delituoso.


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Trabalho preventivo


Trabalhar preventivamente com a comunidade escolar é o caminho mais coerente e de menor custo na busca pela excelência que vai além de questões acadêmicas. O empenho tem origem no âmbito administrativo, junto ao corpo docente e funcionários, acompanhado por uma boa gestão de recursos humanos. Ele deve ser estendido à sala de aula por professores bem treinados, que conhecem as questões de cidadania e ética, sobretudo o respeito ao ser humano, e as possam fazer chegar aos alunos.


Trotes vexatórios ou agressivos devem ser proibidos em regimento e cabe à instituição manter controle efetivo sobre o que ocorre em suas dependências, mas também além delas, em particular através de seu aluno quando identificado como tal, enquanto a representa em outras associações, acadêmicas ou atléticas. As regras devem ser cumpridas e incorporadas na cultura institucional.


Alguns cursos, mais que outros, como os da área de saúde, por exemplo, podem se beneficiar ao transmitir a percepção de que mantêm e se pautam por normas e currículos ancorados na formação ético-humanista, que se articulam com valores que levam o profissional a se engajar de fato com a atenção ao indivíduo e a comunidade em geral.


Em tempos em que a exposição negativa ganha contornos específicos e escalam na degradação de imagens, questões controversas, mesmo que ainda não expostas ao público, devem ser encaradas sem acobertamentos, como garantia de que não se tornarão boatos deletérios, verdadeiros ou não, e não demandem atitudes de retratações muitas vezes vexaminosas e incapazes de sanar totalmente o dano.


A prevenção e a manutenção de um trabalho minucioso de manter ciência do que se passa em seus espaços é uma postura com retorno certo tanto para a comunidade quanto para o professor, os funcionários, alunos e a sociedade em geral.


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