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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

Maioria dos brasileiros entendem que temas de diversidade devem ser abordados já na pré-escola

Grande parte dos brasileiros, mais precisamente 76% deles, acredita que temas de diversidade, equidade e inclusão devem ser abordados desde a pré-escola. Isso foi o que mostrou uma pesquisa da Pearson, empresa global com foco em aprendizagem.


O público do estudo foram 5,5 mil pessoas de cinco países (Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, índia e China) com idades entre 16 e 70 anos. As entrevistas com os participantes foram online e mil deles aproximadamente eram brasileiros.


Um achado interessante da pesquisa é que os brasileiros foram os que demonstraram maior interesse de incluir os temas apontados desde cedo na grade escolar. Comparados aos demais participantes, os brasileiros se mostraram mais abertos para os assuntos da diversidade; no geral, em se tratando dos outros países, somente metade dos entrevistados entende que esses assuntos devam ser tratados a partir do ensino fundamental.


Outro dado importante é que 85% dos brasileiros entendem que a escola também é responsável por ensinar temas sociais e não só acadêmicos.


A pesquisa da Pearson também demonstrou que a maioria dos brasileiros (82%) acredita que os sistemas educacionais poderiam e deveriam preparar os alunos para a convivência em uma sociedade multirracial e, neste quesito, apenas 42% afirmaram que as escolas brasileiras tratam todos os alunos de forma igualitária, independentemente de gênero e etnia. Sobre o racismo, os entrevistados brasileiros foram os que mais relataram a presença de um racismo sistêmico/estrutural na sociedade (80%) e apontaram a discriminação como um sério problema nas instituições de ensino do país. Um triste dado da segunda nação em população negra do mundo, só perdendo para a Nigéria, e que mais da metade do povo descende de povos africanos.


É crucial apontar o recorte da pesquisa, pois os resultados, de acordo com a Pearson, que realizou o trabalho em parceria com a empresa de inteligência americana Morning Consult, são representativos da população com acesso à internet de cada país.


Anseios sociais globais


Uma das lições do trabalho apresentado é que a maioria dos estudantes querem mais educação sobre justiça social e questões de capital, isso à medida que as questões de justiça social se tornam mais presentes e urgentes em nosso mundo.


Mas eles também se preocupam com a falta de educação ou com a falta de educação adequada quando se trata de assuntos como igualdade de raça e gênero. Eles entendem que, por agora, esses temas precisam ser abraçados pelas escolas, para que estejam mais bem preparados para viver em um mundo multicultural. E que há um longo trabalho a ser feito.


Globalmente, 63% dos entrevistados dizem que confiam em seus sistemas de educação para fornecer uma qualidade de educação para todos e mais da metade deles, tal como os brasileiros, pensam que temas sensíveis como diversidade, equidade e inclusão deveriam ser inseridos já na pré-escola.


Mais de 60% acham que poderiam aprender mais sobre uma variedade de questões de diversidade e 80% estão tentando se educar sobre questões relacionadas a justiça social, diversidade ou igualdade de gênero. O interesse, por óbvio, é maior entre os mais jovens.


Um ponto interessante da pesquisa, agora mais especificamente em 4 países - Brasil, Índia, Reino Unido e EUA – é que grande parte dos entrevistados demonstram incômodo ao aprender mais sobre escravidão e colonialismo e menos sobre igualdade no casamento e direitos LGBTQ.


Em se tratando do Brasil, diante da nítida onda conservadora pela qual passamos, não espanta que instituições de ensino se acanhem na discussão de sexualidade e gênero. Em verdade, a insurgência de grupos conservadores que se opõem às discussões de gênero acontece no mundo todo, mas resultados como este da pesquisa da Pearson demonstram que, mesmo em meio a retrocessos, a sociedade civil em parceria com as instituições de ensino devem continuar buscando caminhos para combater a LGBTfobia.


Em 2016 foi realizada a Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil, demonstrando que 73% dos estudantes LGBTQIA+ já relataram terem sido agredidos verbalmente; 36%, fisicamente. Já no fim de 2020, a Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTI+ mostrou que 07 em cada 10 pessoas LGBTQIA+ não se sentem seguras para declarar suas identidades de gênero ou orientações sexuais no ensino médio.


Como nos ensina o antropólogo Ricardo Braga no texto Como anda o debate LGBTQI+ nas escolas?, “a escola reproduz o que acontece na sociedade. Se ainda temos machismo, racismo, gordofobia e LGBTfobia, essas práticas vão estar presentes ali”. E a escola, ao mesmo tempo, vai ter uma grande participação neste debate, pois é ali dentro que se formam as futuras gerações. Infelizmente, no seu sentir, o que se tem visto nos últimos anos é um silenciamento das instituições de ensino em relação à diversidade sexual e o combate às discriminações e violências de gênero.


A pesquisa nos apresenta algumas respostas e também a constante reflexão sobre qual é a verdadeira função social da escola na formação dos alunos: sabemos que é a de desenvolver potencialidades físicas e socioemocionais do estudante, ensinar os alunos a entenderem seus direitos e deveres, desenvolver o pensamento crítico, mas também é, enquanto transformadora social, formar cidadãos capazes de construir uma sociedade mais justa.


Nada disso é possível se temas sobre diversidade e inclusão não forem inseridos para debates dentro de sala de aula. E há um anseio que isso ocorra desde cedo, o que nos parece ser bastante interessante.


Leia mais:



O Global Learner Survey da Pearson é uma das maiores pesquisas de opinião pública em todo o mundo focada no setor estudantil. Esta edição da Pesquisa Global de Aprendiz é a terceira de uma série e foi conduzida por consulta de maio a de junho de 2021, entre uma amostra de 5.000 pessoas nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia, China e Brasil, de idades entre 16 e 70 anos. As entrevistas foram realizadas de forma remota e os resultados apresentam margem de erro de mais e menos 2 pontos percentuais.




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