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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O que aprendemos?

UNESCO, UNICEF e Banco Mundial fizeram uma pesquisa sobre as respostas dos governos em relação à necessidade do fechamento das escolas. Foi feito, então, um relatório que reúne esses dados, administrados pelo Instituto de Estatística da UNESCO (UIS).


É uma resposta global – sem especificação dos países pesquisados - coordenada à pandemia do COVID-19: a primeira rodada da pesquisa foi concluída por funcionários dos Ministérios da Educação de 118 países entre maio e junho de 2020. A segunda rodada relacionou 149 países, isso entre julho e outubro de 2020.


Monitoramento e mitigação da perda de aprendizagem decorrente do fechamento das escolas


Cada país manteve suas escolas fechadas por um período diferente. Então monitorou-se o número de dias perdidos de ensino e aprendizagem presenciais.


Os principais destaques sobre o número de dias em que as escolas permaneceram fechadas e o que os países têm feito para avaliar e mitigar as perdas incluem:


1 - Oportunidades perdidas de aprendizagem: 108 países registraram uma perda média de um quarto do ano letivo convencional.


2 - Avaliações de aprendizagem: embora 86% dos países tenha informado que a aprendizagem dos alunos está sendo monitorada pelos professores, há divergências entre as categorias de renda. Apenas 3% dos países de alta renda responderam que o progresso da aprendizagem dos alunos não é monitorado pelos professores, enquanto cerca de ¼ dos países de renda baixa e média-baixa não fizeram o monitoramento.


Nas localidades em que já houve reabertura das escolas, a maioria respondeu que avalia ou planeja avaliar os alunos por meio de avaliações escolares, mas de forma menos sistêmica. Especificamente no primário, a grande maioria dos países não realizou - ou não planejava realizar - avaliações sistêmicas, seja em nível nacional ou subnacional, junto com a reabertura das escolas. Isso limita a capacidade de mensurar as perdas de aprendizagem de forma abrangente e em relação à trajetória de aprendizagem esperada dos alunos.


3 - Apoio na reabertura para remediar a perda de aprendizagem: 84% dos países que responderam à pesquisa introduziram programas adicionais de apoio para remediar a perda de aprendizagem quando as escolas reabriram. Nos países de baixa renda essas medidas se traduziram com mais frequência em programas de reforço escolar para, pelo menos, uma parcela dos alunos. Entretanto, 1 em cada 4 países de alta renda não introduziu qualquer medida adicional de apoio: eles têm maior probabilidade de considerar a aprendizagem remota como substituta dos dias letivos oficiais.



Implementar estratégias eficazes de ensino à distância


Quando as escolas foram fechadas, muitos governos passaram a oferecer opções de aprendizagem remota, por meio de plataformas online, televisão, rádio e materiais impressos levados para casa.


Cientes de que nem todas essas opções estariam disponíveis da mesma forma para todos, também realizaram esforços para ampliar o acesso a essas plataformas e apoiar os professores e pais/responsáveis.




Quase todos os países que responderam à pesquisa informaram ter incluído a aprendizagem à distância como solução em sua resposta educacional à COVID19, lançando mão de plataformas online, programas de TV/rádio e/ou materiais levados para casa. Como já relatado, em quase 3/4 dos países de maior renda os dias de aprendizagem à distância contaram como dias letivos oficiais, mas apenas 1 em cada 5 dos países de baixa renda tomou essa mesma decisão. A razão é simples: nos países mais pobres esse ensino remoto foi de menor qualidade; então, tomá-lo como substituto dos dias letivos seria mesmo um erro.


Ao menos uma medida para aumentar o acesso aos dispositivos e à conectividade necessários para o ensino online foi introduzida por 89% dos países que responderam à pesquisa. Um exemplo é a disponibilização de acesso a partir de dispositivos móveis ou acesso subsidiado/gratuito à Internet.


Mas se a análise focar nos países de baixa renda, mais de 30% não introduziram qualquer medida de apoio ao acesso ou à inclusão.


Em relação às políticas de apoio aos professores, ¾ dos países que responderam à pesquisa informaram ter exigido que os professores continuassem lecionando durante o período de fechamento das escolas, com grandes diferenças entre as faixas de renda.


Em países de alta e média-alta renda, mais de 90% mantiveram seus professores trabalhando, em comparação a 60% dos países de renda média-baixa e 39% dos países de baixa renda.


Globalmente, a maioria dos países incentivou os professores a interagirem com os alunos e pais por meio de aplicativos de mensagens. Mais da metade dos países de alta renda contrataram ou estão contratando mais professores para ajudar na aprendizagem remota ou na reabertura das escolas.


Enquanto 89% dos países que responderam à pesquisa ofereceu apoio aos professores, 1 em 5 países de baixa renda não o fizeram, sendo importante considerar que, na maioria das vezes, esse apoio se traduziu apenas em orientações sobre como ministrar aulas à distância.


Em relação às políticas de apoio aos pais e cuidadores, cerca de 3/4 dos países que responderam à pesquisa têm medidas de apoio em vigor para os pais/responsáveis. As medidas mais utilizadas são a prestação de orientações, dicas ou materiais para continuar o aprendizado em casa. Mais de 1/3 dos países de renda alta ou média estavam oferecendo apoio aos pais/cuidadores através de acompanhamento telefônico regular realizado pelas escolas; no entanto, apenas 22% dos países de baixa renda que responderam à pesquisa fizeram/fazem o mesmo.


Reabertura das escolas com segurança


As estratégias e o momento de reabertura das escolas variaram (e ainda estão variando) de um país para outro. Embora quase todos os países tenham elaborado protocolos visando reabrir as escolas com segurança, a implementação desses protocolos exigirá recursos adicionais.


Quase todos os participantes da pesquisa precisam de recursos financeiros adicionais para arcar com os custos relacionados à COVID-19 na educação. Os países usaram recursos de várias fontes para suprir essa necessidade e preveem que isso afetará o orçamento alocado à educação no futuro.


Destaques dos planos nacionais para reabrir as escolas com segurança e financiar as medidas necessárias para lidar com o impacto do fechamento das escolas devido à COVID-19:


Planos de reabertura das escolas: em setembro de 2020, 71% dos países já tinham reaberto as escolas total ou parcialmente; outros 6% informaram uma data futura para a reabertura. Outros países não abriram as escolas nas datas previstas ou não informaram as datas de reabertura.


Os países de alta renda apresentaram maior propensão a reabrir as escolas e a fazê-lo por meio de uma abordagem híbrida que combina o ensino à distância e o ensino presencial. Ao mesmo tempo, os países de baixa renda apresentaram maior probabilidade de adiar a reabertura das escolas e planejar o retorno ao ensino e à aprendizagem presenciais.


Em todos os grupos de renda, quase a totalidade dos países que responderam à pesquisa elaboraram protocolos, mas menos de 1 em cada 5 tem planos de realizar testes de COVID-19 nas escolas. De modo geral, mais de 1/4 dos países afirmaram não ter recursos suficientes para garantir a segurança de todos os alunos e funcionários das escolas, com grandes variações por nível de renda.


Também quase todos os países – 95% - relataram a necessidade de recursos financeiros adicionais para garantir uma resposta adequada à COVID-19 na educação. Em pelo menos ¾ dos países de renda baixa e média-baixa, essa assistência veio de doadores externos. Em contrapartida, mais de ¾ dos países de alta renda usaram recursos adicionais alocados pelo próprio governo para a educação.


Realocações internas do orçamento destinado à educação eram esperadas: ocorreram em cerca de 2/3 dos países de renda média e em metade dos países de renda alta. Apenas 19% dos 79 países que responderam já sofreram (ou preveem sofrer) reduções no orçamento destinado à educação neste exercício fiscal ou no próximo; entre os países de renda baixa e média-baixa, no entanto, essa proporção supera um terço.


Mais de um terço dos 72 países respondentes indicaram ter aumentado o apoio governamental às famílias em 2020-2021 ou ter a expectativa de fazê-lo.



Olhar para o futuro


Mesmo dentro de um mesmo país como o Brasil podemos ter diferentes situações em relação à necessidade do fechamento das escolas devido à Covid-19.


O que não varia é como as respostas dos governos à Covid-19 podem aumentar as desigualdades entre e dentro dos países, inclusive porque as experiências de fechamento e reabertura das escolas variam também entre as diversas faixas de renda e de acordo com a capacidade de promover a inclusão.


A ideia das organizações UNESCO, UNICEF e Banco Mundial é que esta pesquisa seja um estímulo aos governos para que possam compartilhar boas experiências que servirão como subsídios para respostas locais e nacionais. Isso tanto para o processo pedagógico quanto para os preparativos para a reabertura das escolas.


Com certeza ainda serão necessários estudos qualitativos mais aprofundados em determinadas áreas para capturar os impactos das respostas e intervenções de política e subsidiar ações posteriores de planejamento e programação educacional.


Espera-se também que sejam coletadas evidências sobre a aceitação desses programas pelas famílias, a fidelidade na implementação das novas políticas e sua eficácia em termos de aprendizagem.


Para ler o relatório na fonte, acesse:




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Nos próximos 02 e 04 de fevereiro, às 10h, faremos encontros virtuais síncronos para discutir "Aspectos jurídicos da educação 2021". Serão dois módulos para contemplar o ensino remoto, a responsabilidade civil e os contratos educacionais.


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