A divulgação da ciência - tanto no ensino básico quanto nas instituições de ensino superior - é uma forma pela qual se pode trabalhar a ampliação do interesse e entusiasmo pelo assunto. Instituições e professores que compartilham destes projetos são cruciais, pois permitem que todos os alunos acessem o conhecimento. Como isto deve ser feito e compartilhado é que é mais complexo.
Nos Estados Unidos existe um projeto chamado Bringing Scientists To You, que envolve estudantes do ensino médio norte americano e professores e funcionários da University of East Anglia (UEA), cujo objetivo é despertar o interesse pela ciência entre os alunos que ainda não ingressaram os estudos no ensino superior.
Ele foi idealizado em 2009 por dois professores desta universidade e é um evento para até 480 alunos do 8º e 9º anos de Norfolk, Virgínia. Os alunos de até seis escolas locais podem frequentar o evento simultaneamente e atender – em um único dia – a até seis oficinas interativas de 45 minutos. Cada uma delas representa uma escola diferente da Faculdade de Ciências da UEA e, ao final de cada dia, é feita uma sessão de resumos sobre possíveis próximos passos educacionais e profissionais.
De acordo com o professor Carl Harrington, um dos criadores do evento, a maior dificuldade no início foi desenvolver estreitas relações de trabalho com as escolas. Como o projeto era novo, não testado e não existia um relacionamento entre as escolas-alvo e os professores de ciências, houve uma resistência inicial, mas o desafio foi superado em visitas às escolas e conversas com funcionários e, principalmente, professores da área.
Quatorze anos se passaram e várias outras escolas começaram a ter interesse pelo projeto, por meio de recomendações boca a boca e mais professores engajados. Os funcionários das escolas participantes também são convidados a fazer sugestões de melhorias que são incorporadas sempre que possível, tornando o Bringing Scientists To You uma parceria entre as escolas e a universidade. Alguns professores relatam que as práticas, abordagens ou técnicas de ensino utilizadas nas oficinas do evento foram inclusive aplicadas nas aulas do ensino médio.
Interatividade
Normalmente, as oficinas se concentram em assuntos ensinados na escola e começam em um nível adequado à faixa etária do estudante, avançando para explorar áreas que os alunos não encontraram antes. E eles aprendem mais quando participam ativamente das oficinas oferecidas, o que já se permitiu concluir que os elementos interativos são essenciais.
Por exemplo: os estudantes se entusiasmam fazendo extrações de DNA em oficinas de Biologia, programando robôs Lego em Ciências da Computação, fazendo cremes e soluções farmacêuticas, bem como realizando experimentos bem simples, onde mensagens escritas desaparecem e precisam ser redescobertas usando produtos químicos.
O objetivo de oficinas como estas é aumentar o entusiasmo pela ciência entre os jovens estudantes e introduzir uma transição para a universidade. O ideal, de acordo com o professor criador do BS2Y, é que os eventos ocorram já nas instituições de ensino superior, inclusive para aquelas onde muitos dos alunos poderão um dia estudar. Desta forma, inicia-se a experiência científica e ainda existe a apresentação da universidade. Os alunos vislumbram seus próximos e potenciais passos educacionais e quebram barreiras a respeito do ensino superior.
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Lembrando que temos pouco da universidade dentro das instituições que contemplam a educação básica; normalmente estas fazem apenas feiras de profissões para oferecer uma visão geral dos cursos nos quais seus alunos poderão se matricular. As faculdades/universidades também costumam abrir suas portas aos alunos do ensino médio, mas também apenas para que eles conheçam as áreas de atuação, as perspectivas do mercado de trabalho e as profissões referentes aos cursos de graduação ofertados.
Mais sobre as oficinas
A experiência apresentada no texto How can universities get more school pupils enthusiastic about science? mostra que é importante apresentar ‘pessoas-modelo’ aos alunos, empregando indivíduos que estiveram recentemente no lugar deles. Também, sempre que possível, trazer estudantes de doutorado ou funcionários que frequentaram uma das escolas locais para falar sobre sua jornada acadêmica, permitindo que os alunos percebam que pessoas como eles frequentam faculdades, universidades e seguem carreiras científicas. A experiência demonstra que este feedback recebido de professores e alunos é importante para os estudantes.
Um outro desafio destes eventos de divulgação é como manter o engajamento e estender o impacto além do próprio evento. Pais e/ou responsáveis pelos estudantes têm uma grande influência em suas decisões e também devem ser sensibilizados pelas realizações das oficinas, como, por exemplo, receber o creme para as mãos que os estudantes construíram ou ter acesso ao ADN que eles extraíram de um morango.
Quando os responsáveis por estas oficinas ajudam os alunos a criar ou desenvolver algo novo que eles possam exibir, estimulam conversas em casa sobre o projeto, sobre os interesses do aluno e sobre o futuro. Com o desenvolvimento de projetos deste porte por um número expressivo de escolas em parcerias com instituições de ensino superior, também podem ser criados concursos nacionais específicos para cada área da ciência, a exemplo do Concurso Canguru. Muitos estudantes se sentem estimulados quando participam de competições ao longo de seu percurso educativo, podendo, com isto, construir capital científico e sólidas aspirações, o que determina melhores escolhas no ensino superior.
O foco deste trabalho conjunto entre escolas e IES é ampliar o interesse pela ciência quando do acesso do estudante no ensino superior, mas também tem o potencial de auxiliar no desenvolvimento da carreira dos docentes universitários e doutorandos que conduzirem e apoiarem os workshops. A participação no projeto ajuda a construir e mostrar habilidades de comunicação e ensino ao mesmo tempo que comunicam suas pesquisas e interesses a um público mais amplo. E ajudando a inspirar a próxima geração de cientistas.
Por fim, é interessante lembrar que escolas e faculdades/universidades que se dispuserem a fazer parte de projetos como este ganham em reconhecimento social, podendo, com isto, elevar o status de seu nome e aumentar a satisfação de seus estudantes.
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