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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O retorno do ensino universitário será híbrido

Atualizado: 26 de nov. de 2020

Não se sabe quando poderemos retomar as aulas presenciais. E mesmo depois do tão esperado retorno, ainda há a possibilidade de sermos compelidos a paradas intermitentes, decorrentes de novas ondas de contaminações pelo coronavírus.


Sem vacina, não é de se espantar que vivamos em um constante “abre-e-fecha”, como diz o biólogo Atila Iamarino. Esse estado alternado de emergência diz respeito a fronteiras e também a atividades, em especial a escolar, onde há grande concentração de pessoas.

Uma maneira de se contornar os problemas trazidos pela reunião diária de alunos e professores, no caso das universidades, será programar retornos alternados. A aula pode acontecer no espaço físico da universidade para uma parte dos estudantes, enquanto os demais acompanham pela rede e os grupos vão se alternando de modo que todos possam ser atendidos adequadamente – e sem aglomeração.

Desta forma, as atividades práticas, por exemplo, poderão ser realizadas de maneira apropriada e todos os alunos terão o suporte presencial a seu tempo.


Em alguma medida já estamos aprendendo que muitas tarefas – escolares ou administrativas - podem ser feitas de forma satisfatória de forma remota. Sejam seminários ou aulas expositivas, sejam reuniões de professores, há muito o que aprender com a ocasião.


A tendência, portanto, é que, qualquer seja a situação, seja pela redução do risco de contaminação, seja pela chegada de uma vacina eficiente, a universidade provavelmente não voltará a ser exatamente como antes.


Todo o esforço em desenvolver plataformas adequadas e em construir o conhecimento para seu uso não serão desperdiçados e ainda teremos a tranquilidade de usar os encontros na universidade com um número reduzido de pessoas por vez, o que pode contribuir para refinar os relacionamentos aluno/professor e afinar o ensino.

Desde o vestibular as instituições podem continuar se beneficiando das atividades online. Há um bom tempo muitas se utilizam das notas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) para o preenchimento das vagas de seus cursos, mas outras muitas já aplicam a prova exclusivamente remota, o que é viável e legal, já que as instituições de ensino superior têm autonomia para elaborar as questões do seu concurso de ingresso.


Em relação a avaliações, também há diferentes formas de fazê-lo de forma totalmente remota: podemos aplicar testes on-line, a serem respondidos e enviados para o avaliador por e-mail ou formulários de envio. Já tratamos do tema em texto específico, inclusive mencionando tecnologias de reconhecimento facial amplamente usadas ao redor do mundo.

Leia:

Enfim, os encontros podem ser utilizados para avaliações, mas as instituições também podem fazê-las de forma remota ou combinar as duas possibilidades.


O ensino híbrido

Vários aspectos que já foram mencionados ligam-se ao chamado ensino híbrido, uma proposta inovadora para a educação que permite aplicar os benefícios da tecnologia em sala de aula. Como dissemos, o estudante tem acesso à sala de aula e acesso às aulas online, combinando-se as vantagens dos dois processos.


O aluno continua estimulado pelas interações sociais e culturais proporcionadas pelos colegas e professores e mantem-se em contato com as ferramentas tecnológicas do campo da educação.

No caso de um bom projeto pedagógico híbrido, há um equilíbrio entre tempos de aprendizagem pessoal e colaborativa. Aprendemos com os professores e alunos; aprendemos sozinhos.

O ensino híbrido é bem mais que apenas uma separação entre encontros presenciais e encontros remotos. Para além da iminente necessidade de mudanças em razão da pandemia, o modelo evoluiu para abarcar um conjunto mais rico de estratégias de aprendizagem, entre elas a forma proposta no livro “Ensino Híbrido, Personalização e tecnologia na educação”, organizado por Lilian Bacich, Adolfo Neto e Fernando de Mello Trevisani.

Podemos dizer, então, que há duas formas de entender o ensino híbrido: uma diz respeito à mistura do método tradicional, presencial, com o ensino a distância. Normalmente, nesse caso, determinadas disciplinas são ministradas na forma presencial enquanto outras apenas on-line. É o uso original do termo e assim devem funcionar – pelo menos inicialmente - as universidades quando puderem retomar alguma atividade presencial. E, no caso, também controlando o número de alunos em sala de aula.

A outra forma de entender o ensino híbrido abrange um conjunto ainda mais rico de estratégias de aprendizagem, em que não existe uma forma única de aprender, sendo processo contínuo, de diferentes formas e em diferentes espaços.


Qualquer que seja a definição de ensino híbrido, é bom reforçar, todas apresentam uma convergência de dois modelos de instrução: o modelo presencial, em sala de aula, como vem se realizando há tempos, e o modelo on-line, que se utiliza das tecnologias digitais para promover o ensino. Os modelos são complementares entre si.


Quando se trata do modelo híbrido mais amplo, vemos que a figura do estudante ativo se torna ainda mais necessária, pois compreende competências amplas, projeto de vida, metodologias ativas, personalização e colaboração com tecnologias digitais. O currículo é mais flexível e as reuniões ocorrem de várias formas, em grupos e momentos diferentes. Não há horários rígidos ou planejamentos engessados. É um modelo interessante e atende com excelência o aluno maduro e autorregulado.


Otimização do espaço escolar

O ensino híbrido também permite uma otimização do espaço escolar, o que, neste momento, é necessário. Países que já estão em fase de retorno às aulas estão, em regra, posicionando mesas e cadeiras com grande distância umas das outras, definindo dias específicos para cada turma frequentar ou não o espaço físico da escola, evitando a proximidade indesejada. Se os alunos podem revezar entre on e off-line, o planejamento de retorno fica facilitado.

E se lidamos com o ensino híbrido em sua versão mais ampla, espera-se que toda a infraestrutura da escola seja utilizada, personalizando-se ainda mais o ensino. Porque não utilizarmos outros ambientes como a biblioteca, os laboratórios específicos, o pátio, o refeitório (quando existente) e até a própria cozinha? Se a utilização do espaço estiver em consonância com o objetivo proposto não há por que não fazê-lo. Lembrando que o conhecimento acontece quando algo faz sentido, quando é experimentado, quando pode ser aplicado de alguma forma ou em algum momento.


As mudanças são bem-vindas

As mudanças são necessárias - isso é fato - e bem-vindas. Nos últimos 30/40 anos o mundo passou por inúmeras e grandes transformações, mas o espaço escolar continua praticamente o mesmo.


O momento é propício para a construção do espaço para o ensino híbrido. Podemos exemplificar com a ideia de que nem todos os estudantes de uma sala de aula têm a mesma necessidade de aprender ou reforçar um conteúdo: o professor pode, então, separar os grupos e apresentar materiais, tarefas e/ou aulas diferentes. O objetivo é que, ao final, todos possam ter tido oportunidades de desenvolverem suas capacidades ao máximo.


Todo o processo exige participação dos docentes e compromisso da instituição; a transformação do espaço da sala de aula rumo ao ensino híbrido segue alguns passos básicos sugeridos por Glauco de Souza Santos no livro “Ensino Híbrido, Personalização e tecnologia na educação”, como avaliar os alunos; planejar as atividades e os grupos; planejar o espaço de aprendizagem; integrar a equipe escolar e, por fim, implementar o método.


A pandemia, enfim, talvez nos arraste a romper de alguma forma com o conservadorismo das práticas pedagógicas repetitivas e acríticas, nos permitindo atender ao que os cientistas da educação clamam há anos.

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