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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

Gestão e liderança nas instituições de ensino

Não há experiências conhecidas de transformação verdadeira dentro de escolas que não tenham contado com uma importante liderança de dirigentes escolares. Esta é a conclusão de um trabalho apresentado pela Unesco intitulado Liderança escolar: diretores como fatores-chave para a transformação da educação no Brasil.


A publicação, realizada em 2022, assume que existe um grande conhecimento sobre liderança educacional no âmbito internacional, pouco reconhecido na América Latina e no Brasil. Seu objetivo, pois, é contribuir para preencher esta lacuna, disponibilizando para diretores escolares, gestores públicos e acadêmicos um conjunto de artigos atualizados sobre questões centrais relativas à liderança educacional.


O material é vasto e por ora vamos explorar a questão da liderança, da administração e da gestão escolar, lembrando que muitos dos autores citados são de países anglo-saxões, onde há maior concentração de produção de conhecimento sobre o tema. Tony Bush, acadêmico da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, por exemplo, é o especialista em liderança e gestão responsável pelo conteúdo sob nossa análise e começa seu texto diferenciando os termos da seguinte forma:


Liderança diz respeito, sobretudo, a valores e propósitos; ao passo que gestão compreende execução e questões técnicas. Enquanto a liderança consiste em “o que”, a gestão consiste em “como”.


Liderança e gestão


Os diretores das instituições de ensino estão no topo da organização e, a seguir, vêm os líderes de nível sênior, médio, professores em sala de aula e equipe de apoio. Em países de poder centralizado, os diretores também são protagonistas do sistema educacional e espera-se que cumpram as exigências governamentais.


A literatura em liderança mostra esta estrutura de forma mais fluida. O diretor é importante, mas não representa mais a única fonte de poder. As tomadas de decisão podem ser horizontais, e não mais unicamente verticais; ou seja, também podem vir de equipes e/ou outros indivíduos. Cada instituição de ensino perceberá qual arranjo lhe fará melhor.


A gestão sugere ênfase na responsabilização verticalizada, com diretores que respondam a órgãos externos, em especial ao Ministério da Educação. Com frequência, a responsabilização do diretor é uma exigência legal, reforçando a autoridade posicional.


Alocação de trabalho


Alocação de trabalho neste contexto é delegação, termo aceito como a atribuição de responsabilidades e tarefas por um gestor a seus subordinados. E, no caso, delegar responsabilidades, e não apenas tarefas, implica um nível mais elevado de autonomia para o subordinado, também responsável por garantir resultados positivos.


Modelos de liderança


Liderança instrucional


Sinônimo de ‘liderança pedagógica’, ‘liderança curricular’ e ‘liderança para a aprendizagem’, entre outras.


A ideia é a de que quanto mais próximos forem os líderes das atividades centrais de ensino e aprendizagem, mais propensos eles estarão a fazerem a diferença para os estudantes. As críticas ao modelo são feitas por duas razões: observa-se que há mais interesse no ensino do que na aprendizagem. E a aprendizagem tem maior potencial de impacto nos resultados escolares e estudantis.


A segunda crítica é pelo fato de ele ter se concentrado demais na figura do diretor como centro de especialização, poder e autoridade, subestimando outros líderes, como os vice-diretores, os gerentes de nível médio, as equipes de liderança e os professores em sala de aula. E, em escolas maiores, é impossível que os diretores possam atuar como principais líderes instrucionais.


Liderança transformacional


A liderança transformacional está ligada à motivação intrínseca, ligada à vocação dos professores. Um modelo transformacional tem foco no processo pelo qual os líderes buscam influenciar os resultados escolares.


A crítica a esta linguagem é que, por meio dela, se exerce controle sobre os professores; se os valores determinantes são apenas para implementar as prescrições do governo, tendenciosamente, então o processo é político e os professores podem ficar subjugados a valores externamente impostos.


Mas quando a liderança transformacional está a serviço da educação em sentido amplo, ela tem o potencial de engajar todas as partes interessadas na conquista dos objetivos ideais, restando harmoniosa a relação de líderes e seguidores.


Liderança transacional


A liderança transformacional se refere a relações estabelecidas entre líderes e professores com base na troca de recursos valorizados. Os professores prestam os serviços educacionais (ensino, bem-estar do estudante, atividades extracurriculares) em troca de remuneração e outras recompensas.


Liderança moral


Alguns acadêmicos do tema, como os britânicos Heck e Hallinger, devidamente citados no texto da Unesco, entendem que a liderança deve ser vista como um esforço moral e não como uma ciência ou um ofício.


Para outros estudiosos também mencionados, a liderança moral exige diversas qualidades, entre as quais: manter valores, seguir normas éticas e tornar-se um modelo de comportamento por meio de ações morais concretas. Os modelos presumem que os líderes agem com integridade com base em valores pessoais e profissionais mantidos com firmeza, que comunicam a visão e a missão da escola, e fundamentam o processo decisório.


Liderança distribuída


Os modelos já citados dizem respeito à liderança individual - em geral, a do diretor – mas já existem metodologias que pretendem abordagens de liderança compartilhada, utilizada de “forma intercambiável” com as lideranças compartilhada, colaborativa, delegada e dispersa.


Lembrando que lideranças colegiada e participativa já são popularmente disseminadas desde 1900 e que, desde o século XXI, a liderança distribuída tornou-se o modelo normativo.


Sua popularidade deu-se por uma questão prática: aliviar o fardo de diretores sobrecarregados, não implicando necessariamente que os funcionários da escola exerçam liderança de uma maneira diferente. Em verdade, a liderança distribuída é uma propriedade que surge a partir de um grupo ou rede de indivíduos e são os líderes formais que devem harmonizar o espaço para o desenvolvimento desta liderança distribuída.


Ou seja, sem a aquiescência e participação ativa dos diretores escolares, que são os que exercem o processo de influência, não há liderança distribuída.


Esta distribuição pode ser considerada um processo de alocação de trabalho pelas lentes da liderança. Em sua forma pura, a “distribuição” é orgânica e não linear, de forma que os professores podem optar pelo início da atividade. A abordagem gerencial é bastante diferente: ela pressupõe que os diretores deleguem tarefas a professores e outros subordinados. No entanto, as divergências entre distribuição e delegação nem sempre são claras para os participantes, especialmente em sistemas centralizados.


Liderança docente


Associada à liderança distribuída, pois é a liderança dos professores no trabalho de desenvolvimento, construção do conhecimento dos professores, e voz dos professores.


Podemos falar em um modelo de quatro partes:


  • liderança dentro da sala de aula;

  • liderança para além da sala de aula, com outros professores;

  • liderança para o desenvolvimento da escola em sua totalidade; e

  • liderança para além da escola e da comunidade.


Quem defende a liderança docente acrescenta a ela três pré-requisitos: uma cultura colaborativa, com tomada de decisão participativa, além de compartilhamento da visão; um conjunto de valores que auxiliem no desenvolvimento da cultura colaborativa e, por fim, que o diretor e a equipe de gestão formal incentivem uma abordagem de liderança distribuída.


Liderança contingencial


O modelo contingencial oferece uma abordagem alternativa, reconhecendo a natureza diversificada dos contextos escolares e as vantagens de adaptar o estilo de liderança àquela situação em particular. Entende-se que líderes eficazes estão sempre interpretando a situação e avaliando uma forma de adaptar seu comportamento a ela e que a liderança requer um diagnóstico efetivo dos problemas, seguido pela adoção da resposta mais adequada à questão ou à situação.


Conclusões


Bons líderes de instituições de ensino vão se concentrar na aprendizagem, o propósito central das escolas. Como todos os modelos de liderança e gestão mencionados no texto têm prós, contras e fornecem perspectivas distintas, a maioria dos líderes incorporará grande parte, senão todas, das abordagens em seu trabalho.


A gestão, por outro lado, é um componente essencial da liderança bem-sucedida; é ela que garante a implementação da visão e da estratégia escolar. A gestão sem visão é criticada (devidamente, na visão do autor do texto, Tony Bush) como “gerencialista”, e se for realizada sem implementação efetiva está fadada ao insucesso.


Rápidas soluções para o baixo desempenho escolar podem promover melhorias de curto prazo, mas para que se alcance um progresso contínuo dentro da instituição o processo é mais trabalhoso. Neste caso, a qualidade da liderança é uma variável essencial para a garantia dos bons resultados.


O contexto de cada instituição é complexo e imprevisível para que se possa sugerir uma única abordagem. No caso, como já mencionamos, a liderança contingencial não adota uma abordagem única; ela reconhece a natureza diversificada das instituições e as vantagens de adaptar o estilo de liderança às situações particulares.


Os diretores podem, então, com a liderança contingencial, interpretar a situação e adotar a resposta mais adequada a ela, podendo ser este um bom caminho a seguir.


Enfim, pincelamos as teorias de liderança escolar; dada a especificidade e as minúcias do tema, sugerimos a leitura completa do texto.


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