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O papel ativo do aluno na construção do aprendizado

Atualizado: 26 de nov. de 2020

Descobrir como estudar é uma habilidade essencial. Se o aluno, em ensino presencial, com apoio do professor e do grupo, já vislumbrava dificuldades em fazê-lo, o que dizer neste momento em que vivemos a educação a distância por necessidade e em que aprender depende de um estudante ativo, que exerce controle sobre seu processo cognitivo e motivacional, de modo a captar, organizar e transformar as informações adquiridas ao longo do tempo?

É fato que todos possuem um certo grau de autorregulação, mas o interessante é que a escola possa aprimorar essa capacidade em cada estudante, favorecendo uma autonomia no aprender.

Podemos ressaltar também que a autorregulação depende de fatores pessoais, como idade e maturidade, bem como sociais e financeiros. O estudante envolvido com outros estudantes ou familiares com boa autorregulação no aprendizado podem se beneficiar grandemente. Pais, por exemplo, que conferem grande valor à aprendizagem em geral, que valorizam a escola e as tarefas escolares, determinam a imagem que os estudantes possuem sobre si próprios e sobre o valor que atribuem ao ato de aprender.

Vale a citação do professor de Psicologia, doutor Luiz Gustavo Lima Freire,

“...um aspecto importante é saber como os pais e os professores podem incentivar a tomada de consciência do aluno nessa direção. O ensino que privilegia a autonomia dos estudantes possui especificidades e exigências próprias, vistas como condições imprescindíveis para o sucesso e bons resultados. As crenças e atitudes dos pais, assim como a forma de ensinar dos professores influenciam enormemente a autorregulação dos estudantes.”

Nunca foi tão importante saber quando e como estudar

Os estudantes que tiveram a oportunidade de frequentar espaços que os dotaram da capacidade de reelaborar, transformar e reconstruir criticamente o conhecimento inevitavelmente se beneficiarão. Os que receberam conhecimentos já elaborados apenas para incorporação ou memorização terão sérias dificuldades. Como a cultura predominante é a transmissiva do conhecimento pronto, vislumbramos sérios conflitos e insatisfações neste momento de bruscas mudanças.

Todavia, a ocasião não nos autoriza a tão somente questionar os erros do passado: a necessidade é de transformação e de busca por respostas do que fazer - e de como fazer.

Inicialmente, não se deve negar a memorização da informação e/ou dos métodos mais antigos que a favoreceram. Eles podem ser tidos como um elemento implicado no processo de ensino/aprendizagem; a chave é valorizar práticas de ensino que permitam a compreensão relacionada com a autonomia e a criticidade.

Mesmo porque em uma sociedade onde a informação é tão diversificada e mutável, é imprescindível que os alunos sejam capazes de poder abstrai-la.


Então: a aprendizagem autorregulada é aquela que pressupõe que o estudante seja capaz de criar um plano apto a alcançar um (ou mais) determinado (s) objetivo (s). Ele precisa ser capaz de estabelecer as estratégias adequadas para executar esse plano e conseguir revisar com certa periodicidade suas estratégias, bem como seu (s) objetivo (s), fazer os reajustes quando necessário.

Ou seja, é essencial que exista vontade e intenção. De acordo com o proposto por Zimmerman, o modelo da autorregulação possui fases, processos e componentes que se integram para produzir os resultados e produtos da aprendizagem. Os alunos podem ser chamados de autorregulados quando são metacognitivamente, motivacionalmente e comportamentalmente mais ativos nos seus processos.


fases na ação do estudante autorregulado. A primeira delas é quando o estudante se antecipa e prepara os objetivos pedagógicos, fazendo a escolha de um plano de ação, o que seja: escolhe o que vai fazer e qual a meta que pretende atingir. A segunda fase é chamada de execução e se faz real pelo cumprimento dos objetivos e planos traçados na primeira fase. Espera-se que o estudante faça a gestão do tempo e do comportamento, além da gestão do ambiente físico no qual ele está inserido. A terceira e última fase é a da autorreflexão. O aluno precisa conseguir avaliar o processo e seus resultados, comparando-o com os objetivos delineados na primeira fase.

A separação das fases por Zimmermann foi realizada para fins didáticos, pois há uma verdadeira interação entre elas, em várias direções e no tempo, não existindo limite rígido ou relação linear.


Escrever sobre a autorregulação do aprendiz exige que façamos uma crítica ao sistema educacional, que vive uma crise. É que ainda é muito usual que as escolas ensinem o conteúdo de uma maneira muito segmentada e pouco contemplativa. Não é raro alunos desinteressados e desenvolvendo suas habilidades muito aquém do que se poderia. A reflexão passa por uma perspectiva política e social.

Por outro lado, pode sim haver um movimento paralelo, capitaneado por professores e psicólogos que instiguem projetos que ensinem os alunos a se autorregularem, a se tornarem mais autônomos e ativos nas suas aprendizagens.

Em nosso texto As 4 tendências dos cursos superiores para 2020, publicado em janeiro desse ano, expusemos que o tradicional modelo de ensino é conhecido como passivo. O aluno acompanha a matéria lecionada pelo professor – o protagonista da educação - por meio de aulas expositivas, com aplicação de avaliações e trabalhos. Na metodologia ativa, por outro lado, o aluno é o maior responsável pelo processo de aprendizado.


Na mesma oportunidade citamos que o crescimento do ensino a distância seria marcante nesse ano de 2020 e que a renovação das grades curriculares se fazia necessária. O fato marcante pandemia surgiu de maneira súbita e o que era tendência se tornou realidade em poucas semanas.

E se um aluno/agente passivo nunca foi bom para o ensino/aprendizado, no EAD é ainda mais problemático.

O aluno autorregulado – o que se sabe sobre desempenho

Já sabemos da importância de o estudante conhecer as ferramentas que lhe permitam a autonomia no campo do estudo. Crucial também estarmos atentos e abertos às pesquisas que analisam estratégias para o melhor desempenho do ser humano enquanto ser aprendente.

Há pesquisas que nos mostram que a distribuição de um estudo no tempo leva a uma melhor retenção em comparação com a acumulação de horas.

Em outras palavras, se o aluno dedicar 10 horas de análise a um tópico específico, é melhor distribuir esse mesmo número de horas por várias sessões de aprendizado mais curtas do que se debruçar no material em apenas uma ou duas sessões mais longas.


Essa constatação foi feita pelo professor Paulo Carvalho, do Instituto de Interação Humano-Computador da Universidade Carnegie Mellon, fruto de grande pesquisa na área das ciências cognitivas, de aprendizagem e de computação.


O pesquisador, principal responsável pela pesquisa comentada, pretendeu entender melhor o processo de aprendizagem para desenvolver teorias e modelos de aprendizagem refinados, que possam apoiar intervenções educacionais eficazes.


Seu estudo, “Self-regulated spacing in a massive open online course is related to better learning”, publicado em março pela Nature, analisou como o espaçamento entre os estudos estava relacionado com o desempenho total do estudante e a conclusão foi a de que os alunos com melhor desempenho (aqueles que se saíram melhor no exame final cumulativo) eram aqueles mais propensos a ter espaçado os estudos.

A pesquisa também apontou que os que mais se beneficiam do espaçamento são os alunos com desempenho inferior e aqueles que não se envolveram em atividades práticas. São descobertas que ajudam a promover um melhor aprendizado geral, bem como podem promover a redução das diferenças de desempenho entre os estudantes.

Nas palavras do pesquisador, em tradução livre, é comum que o aluno seja tentado a "nocautear os estudos" em pouco tempo, especialmente com tantas opções de aprendizado assíncronas (oferecidas por muitos cursos on-line). Para o educando, especialmente o mais imaturo, não há muito sentido em aprender em semanas o que se pode aprender em alguns dias. A conscientização nesse caso se faz necessária, especialmente em relação àqueles com desempenho insatisfatório.

A pesquisa em questão foi realizada examinando os comportamentos naturais de estudo dos alunos em um curso on-line aberto, sobre Psicologia. E a conclusão foi exatamente a de que a distribuição dos estudos em várias sessões estava relacionada ao aumento de desempenho em testes de final de unidade. Muito interessante que a pesquisa informa que os alunos com maior habilidade e probabilidade de concluir as atividades do curso tinham maior probabilidade de espaçar seus estudos.

Os benefícios do espaçamento entre as sessões de estudo, no entanto, foram maiores para os alunos com menos habilidades e para aqueles com menor probabilidade de concluir atividades, o que sugere que o estudo espaçado possa funcionar como um amortecedor, melhorando o desempenho de estudantes com menor rendimento ou que não se envolvem em atividades ativas práticas.

O ingresso do EAD como praticamente a única opção nesses tempos nos evidencia que nunca foi tão importante saber quando e como estudar. E se sempre soubemos que a consciência do aluno como ator do processo é de grande importância, o momento e a realidade cobram providências.



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