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Fórum Brasileiro de Segurança aponta aspectos da violência nas escolas analisados a partir do mundo digital

A Timelens e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública publicaram um relatório de inteligência de dados com base em monitoramento digital, neste ano de 2025. Mapeando perfis de influenciadores, monitorando redes, analisando linguagens, termos e padrões de engajamento, e tendo como foco compreender a violência escolar, as redes sociais, a radicalização, as masculinidades digitais e o discurso de ódio perceptível nas realidades juvenis, eles verificaram a intensificação do conteúdo violento nas redes sociais.


Histórico


Para uma melhor compreensão da pesquisa, indicamos fortemente a leitura do  texto O que está por trás da violência contra as escolas, professores e estudantes; e como enfrentá-la.


Nele, apresentamos o contexto dos ataques violentos a escolas no país, explicamos quem são os principais alvos de cooptação pelo discurso violento e como o processo vem sendo realizado pela internet pelo menos desde o início dos anos 2000.


Também mencionamos as ações coordenadas necessárias entre  órgãos de inteligência e forças de segurança para barrar as ações dos grupos criminosos que agem recrutando e instrumentalizando  crianças e adolescentes para a prática de diversos tipos de ataques e as respectivas formas de responsabilização.


A pesquisa mais recente


A pesquisa da Timelens e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública verificou que, de 2001 a 2018,  nunca houve mais do que 2 casos de violência escolar em um mesmo ano. Adicionalmente, na maioria desses anos, não houve episódios de violência extrema registrados.

 

A partir de 2019, contudo, foi observado um aumento significativo nos episódios de violência extrema nas escolas, bem como uma intensificação de conteúdo violento nas redes sociais, com mais menções positivas a autores de violência em contexto escolar e e um maior número de reações legítimas a situações de bullying, por exemplo.


Fez-se, então, um paralelo entre esta intensificação e o crescimento no número de registros de ataques de violência, que ainda apresentaram crescimento significativo entre 2022 e 2023. Em 100% dos casos, os agressores eram homens.


As principais causas apontadas pelo Fórum foram:


  • O aumento do extremismo e sua disseminação por meios digitais;

  • A falta de controle e criminalização de discursos e práticas de ódio;

  • A promoção da cultura armamentista e a glorificação da violência;

  • A prevalência de bullying, preconceitos e discriminações no ambiente escolar; e

  • A insuficiente formação profissional para lidar com questões como mediação de conflitos e convivência escolar.


Interessante perceber que, de acordo com a pesquisa, houve uma mudança na tendência, sendo possível constatar que os esforços coordenados entre os atores públicos da rede de proteção, liderados pelo MEC no âmbito do Escola que Protege, conseguiram impedir uma “tendência de crescimento no número de casos consumados a partir de 2024, apesar de um ambiente digital em processo de acentuação de sua radicalização”.


De toda forma, apesar da reversão nos números no período acima mencionada, a quantidade de posts contendo ameaças às escolas aumentou 360% nos últimos 4 anos, sendo que a proporção de comentários com elogios aos agressores nas redes sociais passou de 0,2% em 2021, quando do massacre de Realengo, para 21% nos ataques de 2025.


O que ocorre é que, quando algum ato violento é perpetrado dentro do ambiente escolar, não obstante a maioria das manifestações seja de indignação e críticas, uma parcela significativa atribui aos atos uma “função reativa ou justificável”.


Existe motivos para o crescimento deste índice?


O estudo analisado aponta que uma possibilidade para a aceitação da violência como resposta ou saída seja o fato de que os algoritmos das redes sociais favorecem o engajamento – e não o equilíbrio emocional.


Não é que as redes sociais sejam o problema. O problema seria o que os jovens estão construindo nelas sozinhos. São jovens conversando com jovens, construindo identidade, valores, masculinidade, desejo e autoestima; e vivendo em um ambiente em que promove aquilo que gera mais tempo de tela, cliques e comentários.


Nisto, o discurso de ódio se dissemina impunemente, resguardado pelo anonimato de identidades falsas. E em um universo que possui, de acordo com a pesquisa do Fórum de Segurança Pública, linguagem própria, códigos, emojis, gírias que os adultos não dominam ou compreendem.


A criança não é ingênua no digital


Uma parte interessante da pesquisa é a do tópico que dá nome a este nosso item.


É que, ao analisar as circunstâncias de tudo o que tem vindo à tona a respeito do tema, monitorar a internet e/ou bloquear as redes parece ser a solução.


Porém, os estudos mostram que 70% delas sabe ajustar configurações de privacidade; 96% sabe baixar ou instalar aplicativos e 65% sabe postar fotos e vídeos autorais. E se a criança quiser usar, ela vai fazer de tudo para usar.


Mais a mais, o estudo mostra que pesquisas por vídeos que ensinam como burlar o controle parental são comuns, e crianças e adolescentes trocam informações entre si, reforçando a eficácia desses métodos. É fato: crianças ensinam umas às outras como desativar a moderação dos pais nos aplicativos e 45% das crianças e adolescentes não deixariam de usar internet caso fossem impedidos.


Existem vários perfis que declaram ódio ao Family Link, todos reforçando que a ferramenta funciona como uma invasão de privacidade. Para a Timelens e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as redes sociais deixaram de ser um espaço de lazer. Para os adolescentes, elas “são o lugar onde se aprende quem se deve ser”.


Curiosamente, há mais crianças e adolescentes em redes sociais do que adultos.


  •  83% das crianças e adolescentes possuem perfis em alguma rede social.

  • entre 15 e 17 anos, a % sobe para 99%.

  • 78% da população adulta possui perfis em alguma rede social; 5 % a menos.


Plataformas de vídeos são mais usadas por crianças e adolescentes. Youtube e TikTok são as plataformas mais usadas por crianças mais novas. É que  a linguagem audiovisual é mais atraente do que universo textual. A porcentagem das crianças que usam Twitter, por exemplo,  é pequena.


A machosfera: uma jornada do ódio


A pesquisa traça uma jornada do ódio, criada num ambiente que hoje podemos chamar de “machosfera”. É claro que apenas uma parcela dos meninos vão chegar na reta final, mas eles estão sendo arduamente cooptados e a sociedade precisa ficar atenta.


De acordo com o estudo, aos 06 anos ocorre a inserção digital. Dos 06 aos 09 começam os jogos digitais e o consumo de conteúdo audiovisual. Dos 09 aos 12 vem o contato com as redes sociais interativas e o uso do Discord para conteúdo gamer.


Dos 12 aos 15 começa a sexualização, a eventual  insatisfação, a inadequação, o ressentimento; a exposição ao conteúdo RedPill e o encontro de um culpado para sua dor. Dos 15 aos 18 aparece a radicalização em comunidades fechadas e sem monitoramento.


No meio RedPill é comum a categorização dos homens em dois arquétipos distintos: Alpha e Beta. O Alpha assume a liderança em diversas situações; é autoconfiante e assertivo. Independente e emocionalmente estável. É atraente para o sexo oposto devido à sua postura dominante.


O Beta é inseguro e passivo.  Evita confrontos e decisões importantes: depende da aprovação alheia para se sentir valorizado. É frequentemente colocado na “friendzone" por falta de atitude.


A partir do momento em que um menino acredita que não se encaixa em nenhum modelo, surge a figura do Incel, que é a abreviação de “celibato involuntário" em inglês. São homens conservadores que se veem como naturalmente indesejados, fracassados socialmente e afetivamente. Hoje, conforme a pesquisa, são homens jovens adultos, em torno de 25 anos, solteiros e sem filhos. Muitos são brancos, porém respeitando a maior diversidade étnica no Brasil. São heterossexuais e possuem educação formal pelo menos até o ensino médio. Possuem dificuldade de interação social, principalmente com mulheres.


Estes homens recebem acolhimento nas redes, ainda que por discursos de ódio.


Conhecer para cuidar


A publicação apresentada pelo Fórum de Segurança Pública finaliza com um verdadeiro apelo para a sociedade ao apontar que a violência que hoje assusta escolas, famílias e o Estado não começa com um clique ou com um vídeo.


“Ela começa na solidão não vista, no afeto não dito, na vulnerabilidade silenciada dos meninos. Em casa, há a ausência emocional mascarada de proteção Na escola, existe a presença sem escuta. E nas redes, há acolhimento - mesmo que por discursos de ódio”. (Trecho do Relatório do Fórum de Segurança)

Porque não é o mundo virtual que desenvolve o ressentimento ou o ódio. Ele oferece nomes, validação e palco ao que já existe dentro da pessoa. E quando a família, a escola e demais instituições também se ausentam, o algoritmo educa.


A boa notícia, como já alertamos acima, é que a mobilização e o alerta de autoridades  foram acompanhadas de uma redução no número de ataques, vide os dados a partir de 2024, o que mostra que a supervisão (e dar prioridade ao tema) fazem a diferença.


A metodologia utilizada na pesquisa vale ser conhecida e está visualmente representada às fls. 07 do Relatório; foi analisado vasto material publicado em redes sociais, perfis específicos de influenciadores, buscas afins em ferramentas específicas, além de vasta produção pertinente;  acesse e conheça.

 

 

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