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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O risco de apagão de professores na educação básica

 

O artigo publicado na revista Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais do Inep, intitulado Carência de professores na educação básica: risco de apagão?, de Alvana Maria Bof, Luiz Zalaf Caseiro e Fabiano Cavalcanti Mundim, buscou  diagnosticar as  carências  de  professores adequadamente  habilitados  para  atuar  nas  áreas  de  conhecimento  dos  currículos dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, investigando a iminência de  um  possível  “apagão”  destes  profissionais.

 

O estudo fez um  levantamento  das  docências  de  professores  sem  a  formação  adequada  à  disciplina  que  lecionam,  regiões  e  unidades  federativas e componentes  curriculares afetados.  Em  sequência, realizou-se um  diagnóstico do número de  professores  para  os  anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio no país, investigando  em  quais  áreas  do  conhecimento  e  unidades  federativas há um descompasso entre a oferta e a demanda de professores de disciplinas específicas.

 

As avaliações incluíram a aferição do número de ingressantes nos cursos de  licenciaturas,  o  número  de  concluintes  em  cada  área  do  conhecimento  e  o  número de licenciados que ingressam na carreira docente e trabalham nas redes de ensino. Depois, a análise foi se  o  número  de  concluintes  nas  licenciaturas  supriria  as  demandas  total  e imediata de professores com formação adequada para lecionar nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio no ano de 2022, em todas as áreas.

 

Formação de professores

 

A  formação  dos  professores  da  educação  básica é  tema  constante  na  literatura  e  nas  políticas  públicas  de  Educação,  tanto  no  que  diz  respeito  às  necessidades quantitativas de profissionais qualificados quanto  à  qualidade/efetividade  da  formação para  a melhoria  dos  resultados  educacionais. 

 

O atual governo tem propagado preocupação com a questão: o MEC homologou o Parecer CNE/CP nº 4/2024, do Conselho Pleno do CNE, que trouxe as novas DCNs para a Formação Inicial em Nível Superior de Profissionais do Magistério da Educação Escolar Básica.

 

Posteriormente, instituiu o Enade das Licenciaturas com o objetivo de aperfeiçoar os processos avaliativos dos cursos de formação docente. As principais mudanças dizem respeito às matrizes de referência e ao formato das provas, que passarão a ter maior foco na avaliação das competências docentes que nos conteúdos disciplinares de cada curso.

 

Fato que, como demonstra o estudo citado, um grande problema no país é o contingente expressivo de professores que atuam na educação básica sem a formação em nível superior adequada à área de conhecimento  que  lecionam.  Há também muita desigualdade  considerando   as   regiões   brasileiras,   unidades federativas  e  localização  da  escola  (urbana  ou  rural),  o  que  indica  que  os estudantes brasileiros não têm as mesmas oportunidades educacionais em relação à formação dos professores que atuam em suas escolas.

 

Há  estudos   que trazem  a  questão  do  déficit  de  professores   de educação básica (em várias áreas do conhecimento) devido à baixa atratividade da carreira docente,  ao  pequeno número  de  professores  formados pelas instituições de ensino superior em determinadas licenciaturas, à não permanência dos formados na carreira docente, ao adoecimento e à evasão dos professores em exercício, provocados pelas más condições de trabalho.

 

As conclusões são no sentido de - com exceção da disciplina de Física - até haver professores habilitados em número suficiente para assumir as turmas existentes no Brasil, mas falta de atratividade da carreira docente.

 

E são exatamente os  problemas levantados relativos à atração, formação e retenção de jovens na carreira docente que podem  levar a um “apagão” de professores na educação básica.

 

Vale dizer que desde 2007 o assunto é debatido; em 2022 o Semesp, entidade que representa mantenedoras de ensino superior do Brasil,  publicou seus estudos e preocupação sobre a questão.

 

No caso do estudo difundido pelo Inep, a preocupação é se já existe  carência  de  professores  adequadamente  habilitados  para  atuar  nas  áreas  de  conhecimento  dos  currículos  dos  anos  finais  do  EF  e  do  EM;  a  investigação também é a respeito da  iminência  de um possível apagão desses profissionais. 

 

Para  responder  às perguntas,  foram analisados  dados  do  Censo  da  Educação  Básica  relativos  aos  docentes  e  do  Censo  da  Educação  Superior  referentes  aos  ingressantes  e  concluintes  das  licenciaturas  de  formação  específica.  Para identificar os graduados das licenciaturas que ingressam no magistério, foi realizado o cruzamento dos dados dos licenciados da educação superior no período entre 2010 e 2021 com os dados dos docentes do Censo da Educação Básica de 2022.

 

Um dos resultados apresentados no estudo é o de que há  desigualdades  entre as UFs em relação aos egressos dos cursos de formação de professores. Por exemplo, em Língua Portuguesa, há estados com os maiores percentuais de docências de professores sem formação adequada (Mato Grosso; Acre e  Maranhão) enquanto  os  menores  índices estão  em São  Paulo,  DF  e  Rio  de  Janeiro. 

 

A carreira docente 

 

Também é sabido que a conclusão de um curso de licenciatura não garante que o licenciado ingresse  na  carreira  docente.  Há  um  número  de  concluintes  nas  licenciaturas  que  optam  por  outras  profissões.  As análises mais recentes mostram que apenas cerca  de  um  terço  dos  que  concluíram  a  licenciatura  entre  2010 e 2021 atuavam como docentes da educação básica em 2022.

 

Um  percentual  significativo  dos  licenciados  já  lecionava  antes  da  conclusão  do  curso  superior,  mas  esse  percentual  aumenta  de  maneira  substantiva  após  a  graduação e tende a se estabilizar de 3 a 5 anos após a conclusão do curso. A experiência mostra que, caso um licenciado não se torne professor da educação básica em até cinco anos após sua formatura, a probabilidade de ele seguir a docência após este prazo é bem menor.

 

Curiosamente, a área da Física é a que tem o maior percentual de licenciados que atuam dentro de sala de aula (48,1%).

 

Conclusões

 

As  evidências, realmente, são de um  apagão de professores  com  formação  adequada  para os  anos  finais  do  ensino  fundamental  e ensino  médio,  em  vários  componentes  curriculares.  As  análises  realizadas, comparando as demandas total e imediata de professores com o número de  licenciados  nas  áreas específicas, mostram que faltam  professores formados em número suficiente para atender as demandas na maioria dos estados brasileiros.  Além disto, existem desigualdades entre os próprios estados em relação à adequação da formação docente e à carência de professores.

 

A razão principal do déficit é a baixa atratividade da carreira do magistério.

 

Vale ressaltar que a pesquisa apresentada foi ratificada pelo Censo da Educação Superior de 2022 e por análises mais recentes feitas por entidades da sociedade civil, como a do Instituto Semesp

 

Para o instituto, apesar de toda a dificuldade, o sistema educacional pode apresentar soluções para minimizar a situação. É preciso tratar do investimento na carreira do professor e criar condições adequadas de ensino que atraiam novos profissionais docentes, além de auxiliar na permanência dos professores em exercício.

 

É claro que também é preciso discutir as condições de acesso e qualidade no ensino de cursos voltados para licenciaturas no ensino superior, especialmente nas áreas com maior carência de professores. Todos estes tópicos devem ser considerados, especialmente por estarmos em fase de elaboração de um novo PNE.

 

Para uma análise aprofundada das informações obtidas, bem como acesso aos dados de forma pormenorizada, sugerimos a leitura de ambos os textos em sua integralidade:

 

 

  


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