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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

Como as universidades americanas estão lidando com o coronavírus

Atualizado: 30 de mar. de 2020

Alçada a pandemia pela OMS no dia 11 de março de 2020, a COVID-19, provocada pelo coronavírus, está obrigando inúmeros países a tomarem sérias medidas de contenção. Nos EUA, quando eram poucos os estudantes do ensino superior expostos ao vírus, ainda não havendo surtos centrados nos campi, algumas providências já estavam sendo tomadas.


O número de infectados não para de crescer, vários estados já declararam emergência e alguns hospitais reforçaram seus sistemas de atendimento. A situação do país não está muito clara e também não muito favorável, com (curiosamente) o Pentágono admitindo que o número de casos - mais de 1 mil, encontrados nas duas extremidades do país - provavelmente é maior do que a contagem oficial.


Hoje é bastante perceptível a adequação das medidas tomadas pelas universidades americanas, afinal o coronavírus tem bastante transmissão entre humanos, o que já era deduzido, mas agora está bem documentado, reforçando a necessidade de isolamento e contenção.


Interessante citar que quase 1 milhão dos mais de 19 milhões de estudantes de ensino superior dos Estados Unidos chegam do exterior. A China é o maior ponto de origem destes estrangeiros atualmente matriculados. Ao mesmo tempo, um número gigantesco de estudantes americanos estudam no exterior a cada ano. O segundo destino mais popular é a Itália, hoje em lockdown por causa do coronavírus.


Faculdades e universidades americanas em geral, enfim, tem tomado providências para lidar com a disseminação do coronavírus.


O que elas fizeram basicamente?


1. Saíram do presencial para o EAD


Instituições dos EUA com operações na China e no Japão tiveram apenas algumas semanas para migrar todas as suas aulas para o on-line depois que as cidades ficaram em quarentena. Depois disso, faculdades e universidades nos Estados Unidos solicitaram a seus professores que se preparassem para fazer o mesmo e se familiarizassem com programas de videoconferência, isto no caso da necessidade de manter os estudantes e professores confinados em casa, o que agora já é realidade.


Na ocasião do surto Chinês, já praticamente controlado, o professor Jeff Lehman, da NYU Shanghai, primeira universidade de pesquisa sino-americana da China e o terceiro campus da NYU Global Network, disse que, "como faculdade, pensamos mais seriamente em pedagogia no último mês do que nos oito anos anteriores". Disse ainda que palestras sobre bate-papo por vídeo nem sempre eram possíveis em razão de problemas de largura de banda e que, portanto, os professores foram obrigados a descobrir como envolver os alunos postando vídeos e em tópicos de bate-papo.


As lições aprendidas na China e os planos criados para as operações emergenciais chinesas vêm sendo aplicadas nas universidades dos Estados Unidos e podem ser necessárias no Brasil se o coronavírus continuar se espalhando.


2. Cancelaram viagens


Mesmo antes da assessoria do CDC - Centers for Disease Control and Prevention - (Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) manifestar-se sobre a continuidade de estudos no exterior, muitas faculdades e sistemas universitários estaduais começaram a cancelar os programas de viagens, tanto os em andamento quanto os futuros. Professores também precisaram cancelar reuniões e conferências acadêmicas.


3. Estão ajudando estudantes chineses



A China, como já dissemos, é o maior ponto de origem dos estudantes estrangeiros atualmente matriculados nos Estados Unidos. Inúmeros alunos foram forçados a permanecer na China depois de viajar para casa nas férias em virtude de restrições de viagens relacionadas ao vírus. As universidades, então, ofereceram a eles a chance de estudos independentes, se inscrever on-line ou interromper as atividades escolares por um semestre pelo menos, em uma espécie de trancamento de matrícula.


Da mesma forma que alguns estudantes não puderam retornar para os EUA, muitos estudantes não puderam ir embora para casa, seja por férias ou por término do período de estudos. Desta maneira, as instituições estão oferecendo serviços especiais de aconselhamento e, em alguns casos, linhas diretas para denunciar casos de discriminação. A xenofobia, infelizmente, pode se espalhar mais que um vírus.


Vale dizer que as instituições pesquisadas disseram que as restrições de viagens estão afetando sua capacidade de recrutar estudantes na China para os próximos anos. E por ora precisarão lidar com todas estas questões.


4. Emitiram avisos e diretrizes



Em todo o país, as universidades estão tentando acalmar os alunos, professores e pais; quase a totalidade das faculdades e universidades divulgaram comunicações em toda a comunidade e informações básicas de saúde. Estudantes e funcionários que voltam do exterior - e, às vezes, qualquer pessoa com sintomas - são orientados a se colocar em quarentena por duas semanas. Os centros de saúde escolares têm solicitado serem alertados caso um aluno (ou professor) com sintomas acreditar que precisa fazer o teste para a COVID-19. E os professores estão incentivando os alunos a ficarem em casa caso se sintam doentes, dispensando atestado médico.


Além de avisos de saúde, lembretes para lavar as mãos e dicas de limpeza, um elemento comum nas comunicações nas universidades têm sido desempenhar um papel ativo na rejeição da xenofobia, intolerância e racismo associados à doença COVID-19.


5. Planejaram maiores interrupções


As universidades já estão planejando maiores interrupções. Aguardam comunicados da agência federal CDC, mas não adotam postura meramente passiva. Continuam se preparando para a possível transição de mover todas as operações baseadas nos campi para a modalidade on-line. Pelo menos até o surto ser completamente controlado.


6. Estão ensinando e aprendendo sobre o coronavírus


Uma pandemia também pode ser oportunidade de aprimorar o conhecimento. Em meados de fevereiro, o Imperial College de Londres estreou uma aula gratuita na plataforma de aprendizado on-line Coursera, intitulada "Science Matters: Let's Talk About COVID-19". O curso já tem mais de 7.000 matrículas, tornando-se a segunda oferta Coursera mais popular até o momento.


A professora Amy DeCillis, da New York University Shanghai, por exemplo, modificou seu projeto de estudos, agora focado no coronavírus, durante sua própria experiência em quarentena. Ela diz que não está aborrecida de ter ficado no repouso forçado: "Estou contente com minha decisão. Parece extravagante, mas estou aprendendo muito sobre a vida, a amizade, o mundo e a mim mesmo no processo".



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