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Atenção à saúde mental nas instituições de ensino não pode ser restrita ao mês de setembro

Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal (CRP 01/DF) redigiu uma série de orientações a seus colaboradores e buscou fornecer informações e reflexões essenciais para ajudar o trabalho daqueles que, em sua prática profissional e de cuidado, lidam com temas tão delicados como o do suicídio e da automutilação.


O documento não é direcionado apenas a profissionais de Psicologia e outros profissionais da saúde, portanto, mas também aos profissionais da Educação, a quem indicam a necessidade de ter um contato qualificado, ainda que introdutório, a temas que, mesmo com algum espaço na mídia e no debate público, ainda são desconhecidos e fontes importantes de insegurança.


As autoras das orientações entendem que não há como esgotar os temas, reconhecendo, apontando e advertindo para a natureza extremamente complexa, multidimensional e desafiante de comportamentos cuja sombra estão associados a uma enorme carga de vulnerabilidade, estigma e dor. De se ressaltar que, historicamente, “ o suicídio e a automutilação representam importantes desafios conceituais e práticos para profissionais e estudiosos de campos como a medicina, a filosofia, a psicologia, a psiquiatria, a educação, a antropologia e a sociologia ”.


O papel das escolas


De acordo com a publicação do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, uma parcela considerável das tentativas de suicídio são de pessoas na faixa etária escolar. Dessa forma, é muito importante que todo o corpo docente esteja preparado para identificar sinais nos adolescentes (e até em crianças). E a escola, afinal de contas, além de ser um espaço de socialização e aprendizagem, deve ser também fonte de promoção de saúde e cuidado.


Hoje já se sabe que o bullying é um dos principais fatores associados ao risco de suicídio nessa faixa-etária. As vítimas podem ficar em estado constante de pressão psicológica, com efeitos na autoestima que podem perdurar até a idade adulta.


Combater o bullying e outras violências, promover discussões sobre as dificuldades emocionais e como enfrentá-las são, pois, também responsabilidade das escolas, que podem promover programas de desenvolvimento de habilidades socioemocionais, fortalecendo a parte emocional na infância e adolescência.


Essas medidas são muito eficazes para a prevenção do comportamento suicida na juventude e na vida adulta. Outras estratégias preventivas envolvem o desenvolvimento de um ambiente emocionalmente seguro no contexto escolar, com a existência de espaços para o protagonismo juvenil e para expressão dos sentimentos.


Treinar os profissionais que atuam na escola também é de grande importância, pois, como alerta o próprio documento do CRP 01/DF, o Setembro Amarelo, por exemplo, costuma ser abordado nas escolas com decoração nas cores da campanha, palestras e outras ações, estratégia não recomendada com o público adolescente e que pode ter efeitos contrários.


Não estão indicadas atividades que tratem diretamente do tema suicídio, como redações, palestras, atividades extracurriculares etc. Entretanto, é importante haver preparo para lidar com o assunto caso surja entre estudantes. A capacitação de profissionais que atuam na escola deve considerar o desenvolvimento de habilidades de escuta empática, o acolhimento das demandas emocionais de estudantes e identificação precoce de estudantes em risco.


Tema importante que deve ser discutido entre os profissionais da Psicologia dentro da escola - e levados para todos os docentes - são os efeitos da publicização do suicídio de celebridades. De acordo com o estudo que se analisa, eles têm implicações para a saúde mental similares ao enlutamento por suicídio, especialmente entre adolescentes. Assim, quando um caso de relevo é noticiado pela mídia, talvez seja um bom momento para a acolhida e escuta dos alunos, em especial daqueles mais consternados.


Epidemiologia: identidades, comportamentos e situações que aumentam os casos


As escolas devem ter acesso aos dados relativos às identidades, comportamentos e situações que aumentam os casos de suicídios e avaliá-los frente a seu público de crianças e adolescentes. Esse olhar próximo e – porque não – também solidário, pode salvar um estudante.


Curiosamente, ao lado das pessoas idosas, adolescentes estão em grande número nas estatísticas de pessoas que cometem ou tentam o suicídio. Também está a população LGBTQIA+, a população negra, a indígena e a de mais baixa escolaridade. Tentativas de suicídio anteriores, transtornos mentais, sofrimento psíquico prévio, consumo abusivo de drogas são fatores agravantes, sem contar o desemprego e a precarização das relações de trabalho. O relatório do Conselho de Psicologia também menciona índices altos entre os profissionais de segurança e no decorrer das fases mais complicadas da pandemia de Covid-19


O papel dos serviços e equipamentos para o cuidado


Os principais serviços e equipamentos de atenção e cuidado da pessoa com comportamentos suicidas, desde serviços para o momento de crise, passando por acompanhamento especializado, até os serviços que atuam na prevenção ao suicídio e na promoção à saúde mental a partir de uma compreensão mais ampla precisam ser conhecidos pelos profissionais da Educação.


Hoje existem, em regra, nos municípios, serviços dos:


  • hospitais gerais e unidades de pronto atendimento;

  • serviços de socorro e atenção pré-hospitalar: SAMU, Bombeiros, PM;

  • serviço telefônico 24h: CVV;

  • centro de atenção psicossocial (CAPS)

  • clínicas-escola;

  • unidades básicas de saúde: (UBS);

  • consultórios particulares;

  • núcleos ampliados de saúde da família (NASFS)

  • serviços do SUAS (sistema único de assistência social)


Experiência exitosa em escola pública


No Distrito Federal, uma experiência realizada na escola pública Gesner Teixeira demonstra como é viável articular os setores da educação e da saúde. A partir da identificação da existência de muitos casos, entre estudantes, de automutilação e ideação suicida, a escola implementou rodas de terapia comunitária e outras práticas integrativas em saúde, tais como reiki, automassagem e meditação no próprio ambiente escolar.


Os estudantes participam das atividades e contribuem com a gestão e oferta das mesmas, criando redes de apoio mútuo e cuidado compartilhado. A partir de um certo tempo, as atividades proporcionaram melhora no desempenho escolar, a interrupção dos comportamentos de automutilação e ideações suicidas, contribuindo também para uma melhoria no convívio social.


Garantia de direitos e políticas sociais: o SUS, a SUAS e a Educação


O Conselho de Psicologia do Distrito Federal dispõe que, para garantir saúde mental e prevenir o suicídio, é fundamental que os direitos sociais sejam garantidos. Consta no art. 6º da Constituição Federal que são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Esses direitos são efetivados pelas políticas sociais.


Na educação, estão todas as crianças e adolescentes. O SUAS tem seus serviços presentes em todo o Brasil com o objetivo de garantir proteção social e os direitos relativos a renda, moradia, vínculos familiares, deficiência, violência. No Sistema Único de Saúde (SUS), o maior sistema universal de saúde do mundo, fazem-se presentes os princípios da integralidade, da universalidade e da equidade. O Conselho aposta em políticas públicas fortes de educação, assistência social e saúde para garantir saúde mental a cada uma e cada um.


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