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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

Indicação de máscaras PFF2 em Instituições de Ensino reflete avanço dos protocolos de biossegurança

Atualizado: 3 de jul. de 2021

Quando a OMS, em março de 2020, declarou a pandemia, as recomendações eram que adotássemos medidas preventivas como lavar as mãos com frequência, evitar contato com doentes e evitar aglomerações. Máscaras médicas eram indicadas para doentes e profissionais da saúde.


A agência internacional só reconheceu novas evidências dos riscos de transmissão e dispôs que máscaras caseiras deveriam ser utilizadas somente em junho de 2020, indicando, então, que pessoas com mais de 60 anos e com doenças pré-existentes usassem máscaras médicas.


No Brasil, o uso de máscaras era parte de recomendações ou exigências de prefeituras e governos estaduais como recurso de prevenção contra a covid-19 desde abril de 2020 e, como em todos os demais lugares do mundo, também não havia máscaras médicas – estilo cirúrgica – para todos. A de pano caseira era a aliada das demais medidas de proteção.


Novos estudos do CDC em outubro de 2020


Importante frisar que no início da pandemia, havia uma maior atenção à transmissão do coronavírus pelo contato com superfícies contaminadas e pelas gotículas que emitimos ao tossir ou espirrar.


Em outubro de 2020, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão de saúde dos Estados Unidos, atualizou as diretrizes sobre como se dá a transmissão da doença e incluiu os aerossóis, considerando que a transmissão da doença também ocorre pelo ar.


Ou seja, não é necessário que uma pessoa contaminada tussa ou espirre em outra para que ocorra a infecção: os especialistas perceberam a importância da transmissão por gotículas ainda bem menores que as da saliva, que emitimos ao falar ou espirrar, e que ficam suspensas no ar por mais tempo. São os chamados aerossóis.


A OMS, inclusive, foi criticada por focar na transmissão em gotículas e não em aerossóis. As gotículas viajam pelo ar, mas caem no solo depois de um a dois metros, enquanto os aerossóis podem permanecer suspensos no ambiente e infectar por mais tempo.


Enfim, a partir do momento em que se teve o conhecimento científico de que aerossóis transmitem o coronavírus, todos nós deveríamos ter tido o direito às seguintes informações:


  • devemos evitar locais em que há pouca ventilação ou com muitas pessoas aglomeradas e - muito importante -

  • máscaras de pano não são eficientes em todas as situações.


A OMS não mudou suas recomendações, já que, em sua visão, a forma de transmissão do vírus permanece a mesma e a Anvisa também mantém a indicação de máscaras de tecido para a população em geral, determinando que as demais (cirúrgicas e as N95/PFF2) sejam usadas pelos profissionais de saúde.


São praticamente inexistentes as iniciativas governamentais em relação ao debate do assunto: como e por que, então, uma parcela da sociedade passou a optar pelas PFF2?


Alemanha, Áustria e França


Desde o início de 2021, tivemos notícias de que autoridades europeias passaram a exigir que a população utilize máscara de proteção de nível hospitalar, ainda que para atividades cotidianas, para prevenir o contágio às novas variantes do coronavírus.


Na Alemanha e na Áustria já é obrigatório utilizar máscaras do padrão N95/PFF2 desde janeiro. Máscaras cirúrgicas também são aceitas, mas não as de pano, consideradas insuficientes.


Posteriormente, foi a vez da França exigir o uso das cirúrgicas, PFF2 ou máscaras de tecido feitas de acordo com os padrões regulamentares locais, ou seja, confeccionadas com uma camada interna de algodão, outra camada externa de material hidrofóbico, como o poliéster, e uma camada intermediária feita de material sintético, entre eles, o polipropileno.


No Brasil – os divulgadores científicos


Não pudemos contar com as autoridades brasileiras nesse quesito. As orientações a respeito do uso de máscaras ficaram restritas às iniciais e, em grande parte, foram dadas pela imprensa.


Contudo, de olho nos estudos realizados ainda em 2020, divulgadores científicos - alguns deles expoentes no assunto – passaram a informar nas redes sociais sobre os benefícios de se aprimorar a qualidade da proteção facial.


Uma das iniciativas independentes, fruto da colaboração entre pesquisadores que pretendem disseminar informação de qualidade baseada em dados atualizados e análises cientificamente embasadas, é o Observatório Covid-19 BR. O site nos permite acompanhar o estado atual da epidemia de Covid-19 no país, incluindo análises estatísticas e previsões, e os pesquisadores que se dedicam a mantê-lo estão a todo tempo nas redes, de forma voluntária e pessoal, mantendo um diálogo aberto com a sociedade, informando e solucionando as mais variadas dúvidas.


Um deles é o físico e pesquisador na Faculdade de Medicina da Universidade de Vermont, Vítor Mori, que esteve no Brasil no fim de 2020 e se assustou com os desatualizados protocolos brasileiros.


Ele salienta que o foco ainda estava na transmissão por superfícies, enquanto as evidências apontavam mais para a transmissão a partir da inalação de pequenas gotículas leves e aerossóis em suspensão.


É perceptível, de fato, a desatualização dos protocolos: o foco ainda é na utilização de álcool em gel e na medição de temperatura, com pouca ou nenhuma preocupação com a ventilação de ambientes e prioridade para atividades ao ar livre. Além disso, ele percebeu que quase ninguém usava máscaras PFF2 em ambientes de maior risco.


Desde então, o pesquisador em pós-doutorado se dedica a dar dicas de prevenção contra a Covid no Twitter, como o fazem vários outros divulgadores da ciência. Podemos citar também o canal de Youtube Olá, Ciência!, cujo fundador, o biomédico Lucas Zanandrez, promove a divulgação científica ao público leigo de uma forma simples e acessível. O canal de Youtube Manual do Mundo, do jornalista Iberê Thenório, também publicou recentemente material educativo sobre o uso ou não das máscaras PFF2.


Todas estas publicações vêm alcançando um imenso público, que, de posse de informação de qualidade, a dissemina organicamente.

Afinal, que máscaras são essas? Quando devo usá-las?


Máscaras PFF2 e N95 são sinônimas: o padrão brasileiro é o PFF2 e o padrão americano é a N95. Na Europa, o padrão é a FFP2.


Esses padrões não são necessariamente idênticos, mas são equivalentes. Os modelos sem válvulas, que permitem saída de ar sem filtragem, são os mais recomendados.


Todas essas máscaras seguem normas técnicas para garantir um nível alto de proteção, diferente de máscaras artesanais. A PFF2 filtra pelo menos 94% das partículas de 0,3 mícron de diâmetro, as mais difíceis de se capturar.


O ideal, diga-se, ainda é trabalhar remotamente e ficar em casa sempre que possível e, quando necessário, frequentar lugares bem ventilados e manter um bom distanciamento. Mas, na impossibilidade, a PFF2 deve ser utilizada como medida de proteção.


Estas máscaras são formuladas com diferentes tipos de tecido, com até 5 camadas, que conferem mecanismos diversos para reter partículas de diferentes tamanhos. Cada uma possui uma ação eletrostática, o que atrai partículas bem pequenas, o que as máscaras de pano não fazem. Além disso, com os elásticos envolvendo a cabeça – e não as orelhas – se ajustam melhor ao rosto, com menos vazamento de ar pelas laterais e por cima.


Para quem não frequenta áreas muito expostas ao vírus, como hospitais, podem ser reutilizadas e, num único dia, podem ser usadas por até 8 horas seguidas. Se a máscara ficar úmida, é indicado uma troca. Chegando em casa, a máscara deve ser deixada em lugar arejado, sem sol, por pelo menos 3 dias, para então ser reutilizada. Não pode ser lavada nem receber álcool.


As PFF2, que devem ter o selo do Inmetro, são as máscaras com mais capacidade de vedação. As máscaras cirúrgicas, por exemplo, são muito boas, mas têm eficiência limitada contra aerossóis.


E as Instituições de ensino?


Muitas cidades estão em processo de reabertura de escolas. Algumas já retomaram as aulas presenciais ainda no ano passado e, ainda que exista um movimento abre/fecha necessário, o propósito é que as instituições de ensino possam funcionar sem riscos aumentados para funcionários, professores e alunos.


Em relação às crianças mais novas, já escrevemos inclusive sobre os benefícios de as aulas ocorrerem em espaços abertos e livres, o que auxiliaria todos da comunidade escolar.


Todavia, nem todas as escolas e/ou turmas podem concretizar essa ideia e a grande maioria dos professores voltarão ao trabalho dentro das salas de aula.


Neste caso, as máscaras PFF2 devem ser encorajadas pelas instituições de ensino, pois, ainda que o recinto não esteja com o mesmo número de alunos de antes, não haverá grande circulação de ar e serão pelo menos algumas horas dentro do mesmo ambiente. Funcionários da escola que tenham contato com mais pessoas – pais, alunos ou outros funcionários – e que trabalhem em lugares com menos ventilação, também devem usar as máscaras PFF2. Faxineiros que estão sempre circulando pelos corredores, funcionários de secretaria, bibliotecas e cantinas, são exemplos de funcionários que devem utilizar as PFF2.


Funcionários que trabalham nas áreas abertas e bem ventiladas, como porteiros e vigias, ainda que possam trabalhar com boas máscaras de pano, devem ser aconselhados e informados sobre utilizar as PFF2 no transporte público.


As máscaras de tecido foram e ainda são úteis para ambientes ventilados, mas protegem mais os outros do que quem as usa. De forma geral, devem ter duas ou três camadas e devem cobrir bem o rosto, desde a parte superior do nariz até o queixo.


E ainda que usemos duas de tecido (uma em cima da outra), se as duas tiverem vazamentos, pode não fazer diferença. Elas foram parte de um plano de emergência e agora precisamos de mais proteção.


Usar a PFF2 vai desfalcar o profissional de saúde?


Tanto a OMS quanto a Anvisa já relataram preocupação quanto a faltar este tipo de EPI para os profissionais de saúde. Todavia, o setor, via Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho (Animaseg), já se pronunciou informando que o cenário já não é mais de escassez de PFF2.


Quando do início da pandemia, havia apenas 23 fabricantes nacionais certificadas e elas produziam em média 11 milhões de unidades do equipamento todo mês. Aliado às importações, o mercado interno tinha oferta de 15 milhões de unidades por mês.


Em 2021, o mercado triplicou a oferta para 45 milhões de unidades/mês e são pelo menos 53 fabricantes nacionais certificados, que estão produzindo, inclusive, máscaras análogas para o público infantil, que podem ser utilizadas por crianças no retorno às aulas presenciais.


Como comprar e usar de maneira adequada


Listamos algumas boas – e imprescindíveis - fontes de informação:


  • Qual máscara: criado por Beatriz Klimeck, antropóloga, mestra e doutoranda em Saúde Coletiva (IMS/UERJ) e mestranda em Divulgação Científica e Cultural (Unicamp) e Ralph Holzmann, administrador público, fotógrafo e gestor de mídias sociais. Instagram e Twitter.

  • Observatório Covid-BR: iniciativa que reúne 85 pesquisadores brasileiros de 27 estados e 71 municípios. Também no Twitter.

  • PFF para Todos: o site indica, sem fins lucrativos, lojas físicas e on-line para compra das máscaras. Também no Twitter.

  • Vitor Mori: bacharel em física pela Universidade de São Paulo (USP), mestre e doutor em Engenharia Biomédica.

Muitos especialistas, enfim, têm se dedicado a informar a sociedade sobre a necessidade de se melhorar a qualidade da proteção contra o coronavírus. É crucial que os gestores das instituições de ensino estejam atualizados e possam conduzir adequadamente toda a comunidade escolar e acadêmica.


Estando bem informada e orientada sobre a questão do espalhamento do coronavírus via aerossóis, a instituição poderá atualizar seus protocolos, incluindo não só a maior ventilação dos ambientes, como a indicação do uso eficiente das máscaras PFF2.


A manutenção desses espaços abertos depende de muita informação e também de ações efetivas e concretas.

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