Em nossa publicação de hoje fazemos uma análise da pesquisa publicada pelo Banco Mundial, em abril de 2024, a respeito dos impactos da educação em tempo integral na América Latina.
O estudo compreende, de imediato, que a educação integral é uma estratégia eficaz para mitigar os deficits de aprendizagem em razão da crise da COVID-19 e reduzir problemas sociais que afetam estudantes e suas famílias se devidamente implementado.
As questões trazidas foram fundamentadas em evidências científicas sobre a eficácia de programas implementados em escolas da América Latina depois de os resultados do PISA 2022 revelarem um declínio significativo no aprendizado global após a pandemia de COVID-19.
Uma estratégia para enfrentar a crise de aprendizado seria ampliar a carga horária em sala de aula, o que poderia ser feito por meio de jornadas escolares ampliadas ou escolas de tempo integral.
Leia a respeito em nossos textos
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
Dados da OCDE apontam existir uma considerável variação na quantidade de horas de instrução nas escolas da América Latina e Caribe. Quem lidera com a maior carga horária, atingindo 31 horas semanais, é o Chile, enquanto o Uruguai apresenta 23,2 horas. Peru, Argentina, República Dominicana, Brasil e Uruguai possuem carga horária de instrução abaixo da média da OCDE, de 27,5 horas.
Período de qualidade na escola
Se as crianças passam mais tempo na escola, elas aprendem mais?
A resposta é que se a qualidade do tempo for baixa, ou até com menos supervisão de um adulto do que em casa, elas podem aprender menos.
As evidências científicas ainda são limitadas, em verdade. Foram feitas análises de vários estudos relacionados e eles não permitem muitas conclusões sobre os efeitos de mais tempo de instrução na aprendizagem ou desenvolvimento das crianças.
De acordo com o material do Banco Mundial, apenas nos EUA há evidências de uma melhora significativa nas habilidades de vocabulário de crianças que frequentaram pré-escola de 5 dias em comparação com programas de meio período de 4 dias por semana.
Existe uma expectativa de que, se o tempo de aula em matemática e linguagem for maior, por exemplo, os alunos vão aprender mais. Mas essa relação pode não ser tão direta. Os alunos podem apenas se sentir mais cansados por jornadas de aula ampliadas e se esforçarem menos durante as classes ou em trabalhos de casa.
É importante, então, perceber a evidência científica: de oito estudos que analisaram os efeitos da educação em tempo integral na aprendizagem de linguagem e matemática, sete deles encontraram efeitos positivos, incluindo Brasil, México, Chile, Uruguai, Peru e Colômbia.
Brasil e Chile possuem experiências de jornada escolar ampliada a nível nacional. Já Uruguai, Colômbia, México, Peru e alguns estados do Brasil possuem experiências de tempo integral.
No caso, todavia, de os estudantes não gostarem da escola ou o conteúdo for considerado mais difícil nas escolas de tempo integral, ficar mais tempo naquele ambiente pode contribuir para a repetência ou evasão escolar. Alunos vulneráveis, que ainda precisam realizar tarefas domésticas ou trabalhar também podem ter mais dificuldade em permanecer na escola. Se, por outro lado, a instituição for confortável e acolhedora, a situação se reverte.
Há clareza nestas conclusões?
“Dos dois estudos que analisam os efeitos da educação em tempo integral na redução da repetência escolar, um deles encontrou efeitos positivos e um negativo. Dos três estudos que analisam o impacto do tempo integral sobre a redução do abandono, um deles encontrou resultado positivo e dois deles não encontram impacto.”
Matemática e linguagens
De modo geral, a escola de tempo integral ou com jornada ampliada tende a melhorar o desempenho dos alunos em matemática e linguagens, cita o trabalho do Banco Mundial.
Mas os benefícios são iguais para todos? Não. Existem muitas variáveis também.
Como exemplo, no Brasil, escolas situadas em municípios com um PIB per capita mais alto colhem maiores vantagens da educação em tempo integral no aprimoramento do desempenho em matemática entre alunos do 5º ano. No entanto, estas mesmas escolas apresentaram maior abandono escolar no 5º ano em relação àquelas situadas em municípios menos ricos.
O impacto da educação em tempo integral sobre o desempenho acadêmico e a permanência dos alunos na escola varia conforme o contexto socioeconômico. Os estudos apontam para uma variedade, ou seja, alguns identificam maiores benefícios em contextos de maior nível socioeconômico, outros em contextos de menor nível socioeconômico.
Porém, é preciso fixar: há um maior número de evidências mostrando impactos mais elevados da educação em tempo integral em contextos mais desvantajosos.
Em relação a gênero, no Brasil, há evidências de que os meninos do ensino médio se beneficiam mais do ensino em tempo integral em matemática e português em comparação com as meninas; e alunos acima da idade esperada para o respectivo ano têm um ganho menor com a escola de tempo integral em comparação aos que estão na idade considerada adequada.
Fato é que, em nosso país, o ensino em tempo integral favorece mais os meninos em matemática e português, enquanto no Chile, como um exemplo apenas, as meninas nos anos iniciais avançam mais em leitura.
Tempo de Aula e Tempo de Participação no Programa
No México, foram implementados dois modelos de escola de tempo integral: um com jornada diária de 6 horas e outro com 8 horas. Ambos demonstraram impactos positivos semelhantes em relação ao desempenho e à aprendizagem dos alunos.
Observou-se, ainda, naquele país, que os alunos que tiveram a experiência de uma escola de tempo integral nos primeiros anos escolares apresentaram um desempenho superior em matemática e linguagens em comparação aos que foram inseridos nesse modelo educacional mais tarde.
No Brasil, os alunos que estudam no modelo de escola integral de cinco dias têm ganhos adicionais de aprendizagem, uma vez que se beneficiam com tempo extra para estudo independente e aulas de apoio nos dois dias adicionais.
Isso sugere que a duração do envolvimento dos estudantes no ambiente educacional são fatores determinantes para a eficácia deste modelo de escola.
Conclusão: pessoas diferentes, efeitos diferentes
Os dados disponíveis sugerem uma correlação positiva entre a maior exposição dos alunos à escola de tempo integral e o progresso no aprendizado.
As evidências não permitem, porém, estabelecer um consenso sobre o modelo ideal de extensão da carga horária escolar em razão da insuficiência de trabalhos que comparem cargas horárias e a variedade de resultados observados.
O que as impressões revelam é que a educação em tempo integral tende a promover maior aprendizado dos alunos em contextos mais desfavorecidos, contribuindo para a redução das desigualdades educacionais.
E o mais afinado de dados coletados em relação ao Brasil é – em relação a características dos estudantes - que os mais beneficiados são os meninos no Ensino Médio e os alunos que estão na idade adequada para seu ano.
Pesquisa brasileira
É preciso atentar para o fato de que a pesquisa em comento é um comparativo para a América Latina. As pesquisas específicas brasileiras apontam a eficácia do modelo integral em melhorar os resultados em português e matemática.
Em 2023, por exemplo, as escolas de Ensino Médio que adotaram educação em tempo integral atingiram uma média de 4,4 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), superando a média de 4,1 das escolas regulares.
São os índices nacionais, direcionados, que podem medir a qualidade do ensino no país e servir como condutor de políticas públicas.
Leia mais

Gostou deste texto? Faça parte de nossa lista de e-mail para receber regularmente materiais como este. Fazendo seu cadastro você também pode receber notícias sobre nossos cursos, que oferecem informações atualizadas e metodologias adaptadas aos participantes.
Temos cursos regulares já consagrados e modelamos cursos in company sobre temas gerais ou específicos relacionados ao Direito da Educação Superior. Conheça nossas opções e participe de nossos eventos.
Comentários