O Leverhulme Center for Demographic Science (LCDS) é um núcleo de Demografia com sede no departamento de Sociologia da Universidade de Oxford. O Centro é relativamente novo e se dedica a pesquisas internacionais divididas em sete programas de pesquisa, quais sejam: demografia digital e computacional; contexto ambiental, demografia e mudanças climáticas; desigualdade e diversidade; sociogenômica: natureza e criação; demografia causal; demografia, sociedade e sustentabilidade global; e ética, verdade e confiança.
Com o fechamento das escolas no ano passado, o aprendizado online virou foco de inúmeras pesquisas e uma delas, realizada no Centro Leverhulme, repercutiu mundialmente, especialmente por ter concluído que o afastamento das crianças do ensino fundamental de dentro de sala de aula causou sérias perdas de aprendizado.
O estudo foi publicado na Proceedings for the National Academy of Sciences (PNAS) e, em resumo, definiu que as perdas de aprendizagem foram particularmente fortes em famílias com baixos níveis de educação. Os dados foram coletados na Holanda, onde as escolas fecharam por apenas oito semanas no primeiro lockdown e, embora o estudo seja local, os pesquisadores entendem que as descobertas são aplicáveis a outras localidades e países.
Pouco ou nada
É chocante como os cientistas entregaram os achados da pesquisa: para eles as crianças aprenderam "pouco ou nada" durante o fechamento das escolas, apesar do aprendizado online.
De acordo com o estudo, o fechamento de escolas foi (e tem sido) uma ferramenta comum e necessária na batalha contra a Covid-19, mas, em verdade, seus custos e benefícios permanecem insuficientemente conhecidos. Isso foi concluído por estudiosos que analisavam um – digamos - cenário quase perfeito. E os pesquisadores falam em um “melhor cenário”, pois a Holanda passou por um período curto de aulas online, não possui importante desigualdade social e tem as melhores taxas de acesso à banda larga do mundo.
E, ainda assim, apesar de todas as condições favoráveis, descobriram que os alunos fizeram pouco ou nenhum progresso enquanto aprendiam fora do ambiente escolar. A perda de aprendizagem, como era de se esperar, foi bem mais pronunciada entre alunos de famílias carentes.
Os dados analisados
O efeito do fechamento de escolas foi avaliado na escola primária da Holanda, o que corresponde grosso modo ao nosso ensino fundamental. No caso, os exames nacionais ocorreram antes e depois do fechamento; então, os pesquisadores puderam fazer a comparação dos dados utilizando os resultados obtidos neste período com os resultados dos mesmos períodos dos 3 anos anteriores.
O acesso aos dados de 3 anos antes da pandemia permitiu uma referência natural para avaliar a perda de instrução. Eles utilizaram um projeto de “diferença em diferenças”.
Vale repetir que a Holanda passou por um fechamento escolar curto (foram somente 8 semanas), possui um sistema de financiamento escolar amplo e internet para todos. Ainda assim, os resultados revelaram o prejuízo.
O efeito do prejuízo, de acordo com a pesquisa, é equivalente a um quinto do ano letivo, mesmo período em que as escolas permaneceram fechadas e as perdas são até 60% maiores entre os alunos de lares cujos pais receberam menos educação formal, confirmando as preocupações sobre o efeito desigual da pandemia sobre famílias e crianças.
A pesquisa reforça o que já apontamos várias vezes por aqui, que a pandemia Covid-19 está transformando a sociedade de maneira profunda, muitas vezes exacerbando as desigualdades sociais e econômicas. Que cerca de 95% da população estudantil mundial foi afetada pela suspensão das aulas presenciais, ou seja, - a maior interrupção da educação na história, e que é preciso saber e documentar se os alunos estão aprendendo menos no isolamento e se os desfavorecidos o fazem de maneira desproporcional.
As descobertas do Leverhulme Center for Demographic Science sugerem danos ainda maiores em países com infraestrutura mais fraca ou fechamentos de escolas por mais tempo, o que nos atinge de maneira assustadora.
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A pesquisa também faz diferença entre o impacto do recesso de verão na aprendizagem ou de interrupções de eventos como clima extremo ou greves de professores e a pandemia. No caso, a Covid-19 traz outros desafios que torna incerta a recuperação dos estudantes. É que a pandemia tem outros efeitos além da suspensão das aulas, como recessão econômica ou mesmo a exigência de trabalhar em casa, o que modifica a rotina domiciliar. As pessoas também lidam com o risco à saúde e a mortalidade, o que gera custos psicológicos adicionais, assim como o alto custo do isolamento social. Neste ponto, há a previsão do aumento da violência familiar, colocando em risco os alunos já vulneráveis.
Conclusões
Mais uma vez, temos um sistema escolar centralizado, bem distribuído entre a população e com alto grau de autonomia na gestão escolar. Nas palavras da pesquisa publicada, a Holanda está próxima da média da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em gastos escolares e desempenho em leitura e está entre os melhores em Matemática. Nenhum outro país tem taxas mais altas de acesso à banda larga e esforços foram feitos no início da pandemia para garantir o acesso a dispositivos de aprendizagem em casa.
Além disso, o fechamento das escolas foi por um breve espaço de tempo em uma perspectiva comparativa e a primeira onda da pandemia teve menos impacto do que em outros países europeus.
Ainda assim, apesar de todas as condições favoráveis, as evidências da pesquisa demonstram altos níveis de insatisfação com a aprendizagem remota e disparidades consideráveis nos trabalhos escolares e recursos de aprendizagem domésticos.
Se a Holanda, que apresenta um cenário de “melhor caso”, forneceu esse tipo de resposta, com os alunos do fundamental perdendo um quinto do progresso que normalmente fariam em um ano, provavelmente houve perda de aprendizagem em outras partes da Europa e do mundo, em especial em países muito menos preparados para os desafios da instrução remota.
Nem tudo foi resultado negativo: algumas escolas experimentaram pouca queda no aprendizado, mostrando que determinadas ações dos professores, políticas escolares, bem como o ambiente cultural doméstico parecem desempenhar um papel importante na mitigação das consequências negativas da pandemia. Entender o que causa essas diferenças fará parte de novos estudos.
Por fim, o Portal MaisConhecer informa que, com base nesta pesquisa, o governo holandês anunciou um pacote de crise de EUR 8,5 bilhões direcionados a medidas como aumento do pessoal escolar, programas de reforço escolar de verão e recursos para apoiar a saúde mental dos alunos. Um bom exemplo do país que já permite que seus cidadãos estudem cerca de 19 anos, dos 5 aos 39 anos de idade, acima da média da OCDE de 17,2 anos.
Para maiores esclarecimentos, leia o estudo na íntegra: “Learning Inequality during the Covid-19 Pandemic” e na próxima semana acompanhe nosso texto sobre como os pesquisadores recomendam identificar as lacunas na aprendizagem quando do retorno definitivo das aulas presenciais.
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