A pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024
- Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs
- há 4 dias
- 7 min de leitura
Em 2005, foi criado o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e ao Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br). Ele monitora a adoção das tecnologias de informação e comunicação (TIC) no Brasil e cumpre seus objetivos por meio da produção de indicadores sobre o acesso, o uso e a apropriação das TICs em vários segmentos da sociedade. Os dados obtidos servem como insumo para o desenho e monitoramento de políticas públicas que têm contribuído para o desenvolvimento da internet no país.
Na edição de 2024, foram coletadas informações sobre a frequência de uso e posse de perfil em plataformas digitais, o que não havia sido feito antes. Também pela primeira vez a pesquisa investigou a percepção que possuem os responsáveis em relação ao pedido de ajuda para o uso da Internet feito por crianças e adolescentes, bem como a adoção de recursos técnicos para a mediação parental.
Condições de acesso e uso da Internet
Em 2024, aproximadamente 24,5 milhões de pessoas de 9 a 17 anos eram usuárias de Internet no Brasil. Entre 2015 e 2024, houve um crescimento de onze pontos percentuais entre os que usavam a Internet todos os dias ou quase todos os dias e uma queda de oito pontos percentuais entre os que acessavam a rede pelo menos uma vez por semana.
O celular continua sendo o principal dispositivo utilizado pela população investigada para acesso à rede (98%), sendo o único dispositivo digital usado por 32% dos usuários das classes DE. Mais de 90% dos adolescentes de 15 a 17 anos (93%) e dos usuários das classes AB (97%) relataram possuir um celular próprio. Crianças e adolescentes da classe C têm, em número, o dobro do acesso a computadores do que o reportado pelas classes DE e aproximadamente metade do que as classes AB. Diferenças entre as classes também foram percebidas no acesso à Internet pela tv — utilizada por 88% dos usuários das classes AB, 73% dos da classe C e 57% daqueles das classes DE — e pelo videogame, dispositivo usado por mais da metade dos usuários das classes AB (57%) e por 10% dos usuários das classes DE.
Em relação ao local de acesso, quase todas as crianças e adolescentes acessam a Internet em casa (99%). Aproximadamente metade do público pesquisado reportou acessar a Internet na escola (51%), havendo diferença significativa entre aqueles com 9 a 10 anos (13%) e aqueles com 13 a 14 anos (61%) e 15 a 17 anos (81%).
Plataformas digitais
Os resultados mostraram que o WhatsApp é a plataforma digital acessada com maior frequência por usuários de Internet de 9 a 17 anos (71%), seguida pelo YouTube (66%), pelo Instagram (60%) e pelo TikTok (50%).
Os mais jovens, de 9 a 10 anos (70%) e de 11 a 12 anos (71%), são usuários frequentes principalmente do YouTube. Os de 13 e 14 anos são usuários frequentes principalmente do Instagram (78%) e do WhatsApp (73%). O público de 15 a 17 anos utiliza o WhatsApp (91%) e o Instagram (81%) frequentemente e cerca de 83% dos usuários de Internet de 9 a 17 anos possuíam perfil próprio em pelo menos uma das plataformas digitais investigadas, sendo 60% para a faixa etária de 9 a 10 anos, 70% entre os de 11 a 12 anos, e 93% para 13 a 14 anos, o que soa preocupante.
Entre os com idade de 15 a 17 anos, 99% possuía perfil em ao menos uma plataforma digital. As maiores proporções dos que reportaram acesso à plataforma digital pelo menos uma vez na semana, mas não possuíam perfil próprio, foram de 38% para o YouTube e de 15% para o TikTok. Tendo em vista o TikTok e o Discord, houve distinção na posse de perfil por meninos e meninas. A presença de meninas com perfis no TikTok foi superior à relatada por meninos (52% e 38%, respectivamente), ao contrário do que ocorre no Discord, em que a posse de perfis próprios é maior para os meninos (16%).
Habilidade digitais
Quase a totalidade dos usuários de 11 a 17 anos (96%) relatou ser verdade ou muito verdade que sabia baixar aplicativos; 70% deles sabiam ajustar as configurações de privacidade em redes sociais e cerca da metade (47%) sabia verificar quanto dinheiro havia gastado com algum aplicativo.
Em relação às suas habilidades sociais online, 82% desses usuários relataram saber excluir pessoas da lista de contatos ou amigos e 73% deles sabiam como denunciar um conteúdo ofensivo relacionado a si mesmo ou a pessoas com quem convive.
Em relação às habilidades criativas, 55% dos usuários de 11 a 17 anos relataram ser verdade ou muito verdade que sabiam como diferenciar conteúdo patrocinado e não patrocinado online, como o presente em um vídeo ou em uma postagem em redes sociais.
Mais de 70% concordaram que empresas pagam pessoas para usar seus produtos nos vídeos e conteúdos que publicam na Internet (72%) e cerca da metade dos usuários concordou que todos encontram as mesmas informações quando pesquisam coisas na Internet (52%) e que o primeiro resultado de uma pesquisa é sempre a melhor fonte de informação (50%).
Mediação parental
Foi bastante interessante que a pesquisa de 2024 analisou se os responsáveis pelas crianças e adolescentes sabiam/conseguiam fazer uso de recursos técnicos de mediação parental.
Os achados mostraram que apenas cerca de três em cada dez usuários de Internet de 9 a 17 anos têm responsáveis que utilizam este tipo de recurso (34%); filtram aplicativos que eles podem baixar (32%) e utilizam mecanismos que limitam as pessoas com quem eles podem entrar em contato por meio de chamadas de voz ou mensagens (32%). Para cada um dos itens verificados, as proporções foram de cerca de 20% para as faixas de 13 e 14 anos e de 15 a 17 anos e de 40% para aqueles com idade de 9 e 10 anos e 11 e 12 anos.
Aproximadamente 60% de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos têm responsáveis que afirmaram que eles podem assistir a vídeos, programas, filmes ou séries (68%), enviar mensagens instantâneas (67%), baixar músicas ou filmes na Internet (66%) e jogar online (66%) quando estão sozinhos. Por sua vez, especificaram que as atividades que crianças e adolescentes não poderiam realizar em nenhuma circunstância, incluiriam fornecer informações pessoais para outras pessoas na Internet (81%) e realizar compras online (69%).
Orientações para o uso da internet
Como relatado, a pesquisa perguntou sobre a percepção dos responsáveis quanto à frequência de pedidos de orientação feitos por crianças e adolescentes para o uso da Internet. Segundo as declarações dos responsáveis, 44% dos usuários de 9 a 17 anos “sempre” ou “quase sempre” contam sobre coisas que os incomodam ou chateiam na Internet, que é a mesma proporção dos que afirmaram que a criança ou o adolescente “sempre” ou “quase sempre” pede ajuda para uma situação na Internet que não consegue resolver.
Há uma grande diferença verificada na proporção de meninas que “sempre” contam sobre situações que incomodam ou chateiam (46%) em comparação ao percentual dos meninos (28%). As informações também mostraram uma redução gradual nos pedidos de orientação e compartilhamento sobre experiências online na medida em que a idade avança. Entre os mais jovens, de 9 a 10 anos, mais da metade “sempre” ou “quase sempre” relata sobre situações incômodas, pede ajuda para casos que não sabem como resolver ou inicia conversas a respeito do que fazem online, com uma proporção de cerca de um quinto para usuários de 15 a 17 anos.
As ações no Supremo Tribunal Federal
Todos sabemos, como sociedade, pais, escola, governo, que a presença maçica de crianças e adolescentes na Internet, principalmente em plataformas digitais, demonstra a urgente necessidade de ações para a garantia dos direitos e da proteção dessa população.
Ao produzir dados atualizados sobre o que ocorre online e os riscos relacionados à essa participação, a pesquisa TIC Kids Online Brasil contribui – e muito - a orientar políticas públicas na área.
Ajuda a fazer com que seja inserida a educação midiática de forma estruturada nas escolas, possibilita a conscientização das famílias e, de modo geral, como corolário, reduz a vulnerabilidade à desinformação, melhora o bem-estar emocional dos estudantes e aumenta a capacidade de análise crítica sobre conteúdos digitais.
Lembrando que, ainda que tenhamos em nosso ordenamento jurídico a Lei do Marco Civil da Internet, ainda não há meios concretos de responsabilização das empresas por conteúdos publicados, por exemplo.
Não por menos tramita no STF ação ajuizada pelo governo federal para que as plataformas digitais sejam responsabilizadas pelos conteúdos fraudulentos na internet aos moldes do que foi proposto pelo ministro Dias Toffoli quando votou pela inconstitucionalidade do artigo 19 do Marco Civil da Internet.
Seu voto foi o que trouxe mudanças mais substanciais à responsabilização das empresas por conteúdos publicados, retirando a necessidade de ordem judicial para a derrubada de conteúdos postados.
Voltando à pesquisa TIC Kids, seu período de coleta dos dados foi de março a agosto de 2024, com entrevistas a 2.424 crianças e adolescentes e 2.424 pais ou responsáveis em todo o país. Os dados foram coletados por meio de entrevistas presenciais, via questionário estruturado, e os resultados estão disponíveis no portal de visualização de dados do Cetic.br|NIC.br.
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