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E-Book apresenta dez gestores que transformaram suas escolas

O Observatório de Educação publicou um documento que reúne 10 projetos de sucesso, escritos pelos próprios diretores de escolas localizadas no Ceará, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão e Rio Grande do Norte.


A parceria técnica é da agência de jornalismo Porvir, que coordenou a parte editorial, e da Baobá Educação, que gerenciou o processo de implementação do projeto. O material é resultado do Edital de Práticas Gestoras – Relações Interpessoais e Convivência na Escola, realizado entre 2024 e 2025. Mais do que premiar “boas práticas”, o edital se propôs a algo menos óbvio e mais necessário: reconhecer o gestor escolar como produtor de conhecimento a partir da própria prática. Não se trata de relatos idealizados ou modelos prontos, mas de narrativas que expõem dilemas reais, erros, aprendizados e caminhos possíveis diante de situações-limite.


Falar de convivência escolar é falar, antes de tudo, de pessoas. De conflitos, silêncios, escutas e decisões tomadas sob pressão. É nesse território complexo, muitas vezes invisibilizado pelos indicadores tradicionais da educação, que se insere o e-book. São  experiências concretas de gestores que transformaram desafios cotidianos em processos formativos, revelando que a gestão escolar é também um exercício ético, político e relacional.


As experiências selecionadas foram desenvolvidas em escolas de diferentes regiões do país, envolvendo ensino fundamental, ensino médio e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Todas tinham em comum o enfrentamento de problemas concretos: violência, conflitos interpessoais, evasão, desengajamento, baixa autoestima, ausência de pertencimento e fragilidade dos vínculos escolares. O foco não esteve apenas nos resultados, mas nos processos, nas decisões tomadas, nas articulações construídas e nos efeitos produzidos sobre a convivência.


Logo na introdução, o material deixa claro seu ponto de partida: a convivência escolar não é um tema periférico, mas um eixo estruturante da qualidade da educação. Ao longo de oito meses, os gestores participaram de oficinas, mentorias e encontros formativos que privilegiaram a autorregulação da aprendizagem, a reflexão metacognitiva e a construção coletiva do conhecimento. A escrita foi tratada não como obrigação burocrática, mas como parte do próprio processo formativo.


O primeiro capítulo, assinado por Francisca Moreira, talvez seja o mais contundente. A diretora da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Maria Thomásia, em Fortaleza, narra a crise instaurada a partir de uma denúncia de assédio sexual entre estudantes. O episódio desencadeou protestos, ameaças de violência, campanhas nas redes sociais e a intervenção de órgãos externos. O relato expõe, sem suavizações, o impacto emocional, institucional e político da situação.


Além da denúncia, o texto revela os desafios da mediação em contextos de alta tensão: a necessidade de proteger vidas, garantir direitos, dialogar com estudantes mobilizados, enfrentar julgamentos públicos e reconstruir a confiança da comunidade escolar. A experiência culminou na criação de políticas permanentes de prevenção à violência sexual, na reformulação curricular com a inclusão da educação sexual e na articulação de uma rede interinstitucional de proteção. A crise, longe de ser apagada, tornou-se ponto de inflexão para uma gestão mais consciente e estruturada.


No segundo capítulo, João Vitor de Souza Lopes desloca o olhar para a Educação de Jovens e Adultos. À frente do Centro Estadual de Educação Continuada Professor José Américo da Costa, em São João del-Rei (MG), o gestor enfrenta um problema histórico: o estigma que acompanha a EJA e o sentimento recorrente de não pertencimento dos estudantes. Jovens, adultos e idosos que retornam à escola carregam trajetórias marcadas por exclusões sucessivas.


A resposta da gestão passa pela escuta e pela abertura da escola para a cidade. Parcerias com universidades, museus, bibliotecas e espaços culturais ampliam os horizontes dos estudantes e reafirmam seu direito à educação e à vida cultural. O Cesec deixa de ser um espaço de passagem para se tornar um lugar de reconhecimento, dignidade e participação social. O pertencimento, aqui, não é discurso: é prática cotidiana.


Outras experiências reunidas no e-book reforçam a centralidade do acolhimento. Breno Marques relata como ações intencionais de acompanhamento e fortalecimento de vínculos contribuíram para a permanência escolar e o acesso ao ensino superior. Em contextos de vulnerabilidade, o cuidado não aparece como algo acessório, mas como condição para a aprendizagem.


Edileuza Araújo de Souza descreve a transição de um ambiente marcado por conflitos para uma cultura de diálogo, evidenciando o papel da mediação como prática pedagógica. A gestão deixa de atuar apenas de forma reativa e passa a construir espaços estruturados de escuta e negociação, reduzindo tensões e fortalecendo relações.


Kiana Santos apresenta o Radar das Emoções, projeto que integra a dimensão socioemocional ao cotidiano escolar. Ao reconhecer sentimentos como parte legítima do processo educativo, a prática contribui para a prevenção de conflitos e para o desenvolvimento da empatia. Em um contexto em que a escola é frequentemente pressionada por resultados mensuráveis, a iniciativa lembra que aprender também envolve sentir.


Pedro Lima destaca a escuta como motor da ação coletiva. Sua experiência mostra que, quando estudantes e profissionais se sentem ouvidos, o engajamento aumenta e as soluções ganham legitimidade. Emanuel Dias, por sua vez, chama atenção para a importância de olhar cada estudante em sua singularidade, especialmente em realidades marcadas pela desigualdade.


Paula Regina Oliveira aborda o protagonismo estudantil como fundamento da gestão democrática. Ao ampliar a participação dos estudantes nos processos decisórios, a escola fortalece a autonomia, o senso de responsabilidade e o compromisso com a convivência.


Já Claudio Eduardo Lima dos Santos e Wellington José Campos reforçam, em suas práticas, que empatia, atenção e diálogo são pilares para a construção de uma cultura de paz.


Tomadas em conjunto, as dez experiências revelam um ponto em comum: a convivência escolar não se constrói por decretos, mas por práticas consistentes, continuadas e profundamente humanas. O gestor aparece como mediador, articulador e cuidador de relações, atuando em um campo onde decisões pedagógicas, éticas e políticas se entrelaçam.


O material  cumpre, assim, um papel relevante ao dar visibilidade a práticas que raramente ocupam o centro do debate educacional. Ao valorizar a autoria dos gestores e a pluralidade de narrativas, a publicação reforça que não há soluções únicas, mas caminhos possíveis. Em tempos de crescente polarização, adoecimento docente e fragilização dos vínculos escolares, as experiências apresentadas lembram que a escola continua sendo, antes de tudo, um espaço de convivência; e que cuidar dela é cuidar das pessoas que a constroem.


 

 

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