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Identificando as lacunas de aprendizagem causadas pelo fechamento das escolas

Nosso último texto repercutiu um estudo publicado na Proceedings for the National Academy of Sciences, fruto de um trabalho do núcleo de Demografia da Universidade de Oxford que, em resumo, definiu que foram grandes as perdas dos estudantes do ensino fundamental privados das aulas presenciais no primeiro lockdown na Holanda, isto ainda em 2020.


As descobertas são aplicáveis a outras localidades e países e mostram que quando as escolas retomarem efetivamente as aulas presenciais, os alunos retornarão com níveis bastante diferentes de saberes e habilidades, com grandes lacunas no aprendizado. Como identificá-las?


Leia:




Identificando as lacunas


Não há mistério: retomadas as aulas presenciais de forma definitiva, uma vez que atingirmos o percentual ideal de população imunizada, será preciso mapear tudo o que ocorreu durante o período de afastamento das salas de aula. Em todas as etapas do ensino, este mapeamento será necessário, mas, por hora, cuidamos do ensino fundamental em específico.


Pois bem, este mapeamento, ou seja, esta resposta coletiva, será fruto da avaliação diagnóstica realizada com cada um dos alunos especificamente.


Para um melhor entendimento, vamos definir, sob o crivo do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) da UFMG, que avaliação diagnóstica tem duas possibilidades interpretativas:


É aquela “avaliação realizada no início de determinado momento da escolaridade, visando à apreensão de aprendizagens relativas a processos e/ou percursos anteriores”, com o objetivo, nessa acepção, justamente de auxiliar no delineamento de pontos de partida de processos de ensino.


E também é, no discurso pedagógico, tratada como sinônimo de avaliação formativa, ou seja, “como a avaliação que ocorre ao longo dos processos de ensino e aprendizagem, visando a sua regulação”.


A avaliação diagnóstica como a verificação do que o aluno aprendeu daquilo que lhe foi ensinado no curso da pandemia, a fim de identificar dificuldades de aprendizagem a serem superadas, é justamente do que precisaremos ao final do período de suspensão (total ou parcial) das aulas no ensino fundamental.


Os resultados dessa avaliação poderão orientar o ensino e o (re)planejamento do trabalho desenvolvido em sala de aula.



O próprio Conselho Nacional de Educação já enviou ao Ministério da Educação resolução com diretrizes referentes ao período de suspensão do ensino presencial e a volta às aulas abordando temas técnicos como as ações de acolhimento e das avaliações diagnósticas que permitirão estes realinhamentos e adequações das abordagens e estratégias de ensino.


Provas


As avaliações diagnósticas podem assumir vários formatos. Ou melhor, existem muitas estratégias para verificar a aprendizagem dos alunos. Pode, sim, ser feita uma prova aberta ou de múltipla escolha para o aluno, mas também há os projetos interdisciplinares; os simulados. Os trabalhos e/ou discussões em grupo; questionários e/ou exercícios; entrevistas; apresentações orais; estudos de caso para estudantes mais amadurecidos; Na educação infantil podem ser feitas avaliações por observação e acompanhamento; rodas de conversa e desenhos.


A avaliação diagnóstica, portanto, não pode ser um termo designado para aplicação de testes de múltipla escolha em larga escala depois da pandemia. Seria uma abordagem muito limitada, quase uma sondagem, e não uma diagnose sobre o aluno, cujo objetivo é mostrar os avanços e conquistas de cada indivíduo.


Mais a mais, já se sabe que a diversidade nas avaliações traz benefícios para o processo escolar, pois, quando diversificamos as maneiras de avaliar, criamos a possibilidade de alcançar diferentes perfis de alunos e formas de aprendizagem.


Enfim, são as informações obtidas através dessas avaliações que evidenciarão os déficits do processo educativo. A partir daí as instituições de ensino poderão qualificar adequadamente as atividades iniciais.


Planos de ação precisam ser definidos


Já se imagina que, finalizadas as avaliações diagnósticas, não haverá simples continuidade no ensino do conteúdo, mas - primeiro - uma retomada de conteúdos anteriores, tudo de acordo com os saberes que cada grupo de alunos conseguiu incorporar ao longo do período de afastamento. Afinal, o que se sabe é a ponte para saber mais.


É preciso salientar a necessidade de as instituições de ensino se planejarem desde já, pois realizar a avaliação diagnóstica é o primeiro passo para (re) planejar as ações do próximo ano. Mesmo porque há quem indique, como o educador Ademar Celedônio, que a instituição, depois de detectadas as lacunas de aprendizagem, ofereça aulas de reforço em horários alternativos, como no contraturno, por exemplo, o que – claro - precisa ser planejado com antecedência adequada.


Pois nos turnos regulares não haverá como repassar todo o conteúdo do ano anterior, devendo ser priorizado o que é imprescindível para a aprendizagem das matérias dos anos seguintes. Assim, nas instituições de ensino em que for possível, repassados para os responsáveis os custos existentes, pode ser interessante a opção de uma maior carga horária dentro do próprio ambiente escolar.


Impactos podem ser duradouros


É importante que as instituições de ensino mantenham o registro do desempenho de cada um dos alunos por meio de relatórios de evolução durante o ano e também nos anos que se seguirão. Em 2022 ainda sentiremos fortes os impactos da pandemia da covid-19 e nos períodos subsequentes novas avaliações diagnósticas poderão nos mostrar como os reajustes e adaptações no ensino contornaram os efeitos danosos que a interrupção das aulas presenciais causou naqueles alunos em específico.


Por último, concomitantemente aos métodos avaliativos para diagnosticar as lacunas de aprendizagem, fundamentais para o planejamento das próximas etapas escolares e também do próximo ano letivo, há um outro elemento que deve ser preocupação das instituições de ensino quando do retorno definitivo às salas de aula: o cuidado das habilidades socioemocionais.


É preciso um olhar voltado ao acolhimento dos estudantes, das famílias, do corpo docente e dos demais colaboradores que completam a comunidade escolar. Este período provocou reflexões em todos e a escola não pode ser aquela que “apenas” segue e cumpre currículos e, sim, aquela instituição que estabelece relações diretas com seu público e com a realidade que o cerca, com mandato educacional. Ela não deve apenas transpor conteúdos dos documentos curriculares, mas cumprir com os pilares do que a constitui escola: o planejamento, a seleção de conceitos e objetos de conhecimento e a reflexão acerca do que, a quem e para que se quer ensinar.


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