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IPEA sugere novos debates para combater a evasão no ensino superior

Há poucas semanas repercutimos um estudo do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicado no início do mês de novembro, intitulado “Políticas Sociais: Acompanhamento e Análise”, que reflete o trabalho de uma equipe multidisciplinar de profissionais da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais e que procura compreender e encontrar as melhores soluções para as questões sociais brasileiras.


O principal objetivo do trabalho é acompanhar as políticas sociais, retratar e avaliar o conjunto das ações realizadas ou impulsionadas pelo governo federal para a promoção dos direitos sociais da população.  Dentre os tópicos da pesquisa temos a Educação e, esmiuçadamente,  a Educação Superior, as desigualdades persistentes e uma ‘agenda tentativa’ para o Brasil.


Lembrando que a educação no Brasil teve um desenvolvimento tardio em relação à Europa, EUA e mesmo em relação a países da América Latina, não é difícil compreender as razões pelas quais hoje o Brasil apresenta uma das menores taxas de conclusão do curso por parte do ano no prazo previsto.


A este respeito, leia nosso texto:


Conhecer o processo histórico do ensino superior nos permite entender lacunas e desafios atuais


Pois bem, outra questão relativa ao universo da educação mencionada no estudo do IPEA está relacionada à pouca maturidade do aluno para optar pela profissão em uma idade prematura, inferior a vinte anos.


A pesquisa menciona o fato de que o Brasil sequer discute, por ora, um modelo similar a de outros países, como os Estados Unidos, no qual o aluno ingressa na universidade e frequenta diferentes disciplinas que são do seu interesse até definir a profissão em que deseja atuar. Uma modalidade desta natureza não eliminaria as escolhas prematuras – é claro - mas estas escolhas, como entendem os pesquisadores, recairiam sobre áreas genéricas como exatas, biológicas ou humanas, e não de profissões específicas, a exemplo das de engenheiro, médico ou advogado.


Isto poderia ajudar a reduzir a evasão dos cursos e o atraso na diplomação, que custam caro aos cofres públicos.


A pesquisa do IPEA demonstra grande conflito dos estudantes ao definir a carreira. A perspectiva de seguir algumas delas  é limitada até mesmo entre alunos com boa performance no exame e espelham as desigualdades de gênero presentes no mercado de trabalho: entre os alunos de alto desempenho em matemática ou ciências, cerca de um terço dos meninos no Brasil espera trabalhar como engenheiro ou profissional de ciências aos 30 anos, enquanto apenas um quinto das meninas espera fazê-lo.


Cerca de 40% das meninas de alto desempenho desejam trabalhar em profissões relacionadas à saúde, enquanto apenas algo como 25% dos meninos nessa situação seguiria esse rumo. Por fim, apenas 4% dos meninos e quase nenhuma menina no Brasil esperam trabalhar em profissões concernentes às tecnologias da informação e da comunicação (TICs).


Estas expectativas, algumas repletas de preconceitos,  poderiam ser modificadas caso os alunos pudessem frequentar disciplinas comuns nos primeiros semestres da graduação, respeitado, é claro, um mínimo de coerência nos interesses do estudante.


Para tanto teríamos que vislumbrar uma modificação nas normas educacionais, que hoje incluem, normalmente, para os cursos de graduação, as disciplinas básicas, as profissionais obrigatórias, as optativas e as atividades de extensão, que representam, desde dezembro de 2022, ao menos 10% dos créditos curriculares dos cursos.


Entendemos que não seja o caso de copiarmos o sistema americano, por exemplo, de graduação. Cada país, povo e cultura tem suas especificidades. Porém, talvez seja interessante iniciar um debate sobre a adequação ou não de  os estudantes, primeiramente, acumularem um conhecimento mais amplo em uma área para depois se especializarem ao longo do curso.


O sistema de ensino superior nos Estados Unidos


Nos EUA os estudantes são submetidos a um modelo geral de educação. Eles escolhem uma área geral e uma específica de estudos, sendo que cada  instituição de ensino tem os seus próprios requisitos quando da inscrição.


A partir do terceiro ano, o aluno já pode decidir a habilitação na qual deseja seu bacharelado. Essa opção chama-se "Major". Depois da escolha do "Major", o estudante tem a opção, se se interessar, de frequentar o "Minor", que são matérias eletivas secundárias relativas à habilitação em que deseja se especializar.


O ‘Major’, portanto, é a habilitação em que o estudante deseja concluir o bacharelado, como ocorre na Economia, na Física e na Biologia, por exemplo.


E o ‘Minor’ são matérias eletivas secundárias escolhidas pelo estudante para uma especialização. No caso do estudante ter escolhido por um "Major" em Jornalismo, pode optar por um "Minor" em Jornalismo Esportivo.


Medicina, Odontologia, Veterinária e Direito são cursos de graduação cujo processo de formação é um pouco diferente dos demais. No terceiro ano (o chamado "Junior"), o estudante não escolherá a habilitação específica como Medicina e Direito, por exemplo. Ele escolhe uma habilitação em: "Pre-Med", "Pre-Dental", "Pre-Vet" ou "Pre-Law", o que significa um preparo introdutório do curso em que desejam se graduar.


Finalizado o "Senior", o estudante passa por uma prova na qual serão testados seus conhecimentos. Se for aprovado, será encaminhado para uma "Professional School" onde finalizará o curso e, poderá, finalmente, exercer a profissão. Nas "Professional School", a duração dos cursos de Direito, Medicina, Odontologia e Veterinária variam entre quatro e oito anos.


Evasão universitária 


Há mais de uma década  as instituições de ensino superior já vislumbraram que, no que diz respeito à instituição em particular, a organização do currículo – geralmente fragmentado e especializado, sem visão de conjunto – e a pouca oferta de cursos noturnos dentro das universidades federais, afastam os alunos que precisam trabalhar para se manter.


Três tipos de evasão já foram identificadas: a de curso, a de uma instituição em particular ou do ensino superior como um todo. Cada uma tem causas específicas.


Para a  professora do Grupo de Estudos dos Sistemas Educacionais (GESED) da Faculdade de Educação (FE/UFRJ),  Sabrina Moehlecke, no caso da evasão por curso, o principal fator é a escolha prematura da carreira a ser seguida.


As lacunas de formação no Ensino Médio também favorecem o desconhecimento das dificuldades acadêmicas, principalmente em Matemática, Física e Química.


As dificuldades nestas áreas de conhecimento geram baixas taxas de conclusão em carreiras de Ciências Exatas e Engenharias, dados que se mantém praticamente inalterados ao longo dos anos.


As deficiências gerais do Ensino Médio também afastam o interesse dos estudantes pelas matérias básicas dos cursos superiores, o que reforça o que dissemos sobre a solução não ser copiar nenhum modelo de ensino externo antes de conseguirmos melhorar a qualidade de nossa própria educação, porém abrir canais de debate entre sociedade e governo para tentar encontrar melhores soluções para a questão. 


Enfim, o tema evasão universitária é desafiador, não possui motivo único, muito menos solução fácil ou pronta. Inserir no debate possíveis causas deve ser bem recebido. 


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