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Tendências e implicações políticas da tecnologia na Educação

Atualizado: 7 de out. de 2023

O serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia publicou um relatório sobre as tendências e as implicações políticas da Tecnologia na Educação. Na publicação de hoje vamos dar as linhas gerais deste estudo e um panorama do que vem sendo feito das tecnologias digitais na Educação e o prognóstico para o futuro. Em publicações vindouras vamos esmiuçar os tópicos da pesquisa.


A utilização de tecnologias digitais na Educação não é recente. Como elas vêm permeando há muito nossa sociedade sob a forma de dispositivos e aplicações de todos os tipos, utilizados no trabalho e para fins pessoais, é natural que elas também já tenham atingido a área educacional.


O que é novidade é o aumento da velocidade de desenvolvimento e de adoção de tecnologias digitais específicas. Outra novidade é o seu carácter transformador. O relatório cita o big data, a blockchain, o 6G e a mudança nas capacidades de armazenamento, como os grandes volumes de dados. Também a Internet de nova geração, a inteligência artificial (IA) e, claro, a próxima geração de tecnologias virtuais que surge dia após dia.


Já compreendemos que a inteligência artificial e a próxima geração de mundos virtuais têm a capacidade de modificar a realidade em que vivemos e a forma como entendemos as nossas sociedades e relações. E, em sendo assim, o setor da educação tem de se adaptar a este novo ambiente de informação.


É preciso refletir que a educação, seja formal ou informal, fornece os elementos fundamentais que definem os aspectos essenciais do desenvolvimento cognitivo de cada pessoa. Ela molda a personalidade e oferece oportunidades de vida.


Esta é razão pela qual compreender como as tecnologias digitais afetam e transformam o processo educativo e os sistemas educativos em geral é fundamental para cada sociedade. E o relatório, embora confeccionado em particular para a Europa, é de total valia para nosso país, pois, como nós, na busca de uma transformação digital centrada no ser humano, os europeus pretendem imaginar o futuro da tecnologia na educação e delinear as implicações políticas associadas.


O objetivo principal é estimular o debate e identificar cenários potenciais para a utilização das tecnologias digitais emergentes; e particularmente a IA no domínio da educação.


Inovação em desenvolvimento


O relatório argumenta que a inovação em desenvolvimento que mais provavelmente terá impacto em nossa sociedade diz respeito à infraestrutura de conetividade subjacente às comunicações por fio. Ou seja, são as comunicações sem fios. O aumento da velocidade de transferência de dados e a redução da latência proporcionadas pelas redes 5G abrirão novas oportunidades em relação a ambientes virtuais imersivos e aplicações de realidade expandida (XR).


Eventualmente, com o lançamento do padrão 6G, a Internet vai operar num espectro mais ampliado de frequências e vai incorporar uma rede onipresente de dispositivos de detecção de alta precisão. O relatório da Comissão Europeia prevê que estes desenvolvimentos levarão a Internet a um novo paradigma de sincronização e mistura do físico e do digital.


A chamada Próxima Internet, por exemplo, será constituída de uma nova infraestrutura técnica que ligará a cognição, o espaço e a ação de novas formas. Isto acontecerá principalmente por representações no mundo físico, o que significa que a ação e a interação humanas passarão a ser mediadas por uma camada digital em tempo real.


Em termos de implicações pedagógicas, o relatório europeu salienta que as ligações entre cognição, espaço e ação são relevantes para as teorias construtivistas da aprendizagem, pois abordam a ação prática como uma fonte fundamental para a aprendizagem.


De acordo com o material sobre o qual nos referimos neste texto, graças às redes mais rápidas, maiores capacidades de comunicação e de dispositivos leves, as tecnologias imersivas - como a realidade virtual, a realidade aumentada e os hologramas - poderão permitir a aprendizagem experimental mais autêntica, o que, de outro modo, seria inviável devido, por exemplo, aos riscos de segurança e aos altos custos.


O que se quer dizer com isto? Seria a vivência da experimentação e da investigação científica, de forma virtual. Um bom exemplo é a utilização dos simuladores de voo, dispositivos que podem ser utilizados para o crédito de horas de treinamento de voo para a qualificação de tripulantes técnicos.


Neste caso em específico, algumas das vantagens de se utilizar um simulador de voo em um treinamento incluem a possibilidade de se treinar determinadas situações de emergência em voo, sem risco à vida dos profissionais; maior eficiência do que o exercício realizado em aeronave, sendo possível repetir rapidamente exercícios e manobras; a economia de combustível e com a manutenção da aeronave; e o menor impacto ambiental.

A avaliação da aprendizagem e a certificação de competências

O relatório da Comissão Europeia prevê que as tecnologias emergentes poderão redefinir a forma como os processos de avaliação e certificação são realizados. Esta modificação ainda não ocorreu, mas vai ganhar terreno na medida em que os estudantes necessitarem se empenhar mais e mais no desenvolvimento de competências especificas.


A exploração de dados no âmbito da educação já é uma prioridade para as instituições, para os gestores políticos e fornecedores de tecnologia educativa e a chamada datificação da educação deverá continuar ganhando terreno em todos os níveis e contextos. Isto significa que os dados em grande escala sobre a educação estarão no centro das transformações da sociedade do conhecimento.


Esses dados são desejados para reforçar o desenvolvimento de novas abordagens pedagógicas, tecnologias de aprendizagem e políticas de educação. Ao mesmo tempo será necessário determinar quais dados serão necessários e como poderá ser assegurado que seus titulares tenham acesso e controle sobre eles.


O objetivo, na verdade, é registrar os processos de aprendizagem – e não só os resultados – melhorando-os em última análise. Mesmo porque qual seria a validade da informatização da educação caso não houvesse maior qualidade nos resultados?


É bom lembrar que, em se tratando de armazenamento de dados, preocupações em relação ao tratamento e sua potencial utilização indevida devem ser sempre abordadas.


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Os sistemas de IA e a regulação tecnológica


Os sistemas de IA disponíveis para o público em geral já atingiram um nível de maturidade de imitação e até de superação de humanos. O estudo nos lembra que parece existir um consenso de que a IA generativa terá um impacto relevante e duradouro na educação. Seja negativa ou positivamente, há muitas formas desta tecnologia afetar o ensino, a aprendizagem e a avaliação.


O relatório também sublinha a importância da regulação da inovação tecnológica. As normativas possibilitam que a tecnologia se adeque às teorias da aprendizagem e da educação e vice versa, respeitando a política educativa do Estado.


É interessante a menção aos modelos abertos de aprendizagem; para o estudo apresentado pela Comissão Europeia, os estudantes se beneficiam com modelos que desenvolvem a autorreflexão e a autorregulação da aprendizagem, principalmente em uma nova realidade em que são requeridas dos estudantes e trabalhadores – com certa frequência - as “novas competências”.


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Avaliação


De forma prática, já sabemos que a existência da IA generativa exige uma mudança nos padrões avaliativos das instituições de ensino. Na experiência ordinária os professores já entendem que trabalhos, por exemplo, são muitas vezes produzidos pela tecnologia, de modo que a avaliação, enquanto fator que influencia fortemente o ensino e a aprendizagem, merece grande atenção.


A avaliação formativa é, no caso, uma alternativa aos métodos tradicionais de avaliação escolar, baseando-se em analisar o estudante de forma singular, de acordo com as suas principais necessidades e desafios no processo de ensino.


Em qualquer caso, uma das principais prioridades deve ser evitar a automatização de práticas de avaliação; ela não é relevante no novo contexto.

Desafios políticos


O desafio político mais significativo no momento consiste em saber como aproveitar da melhor forma o potencial da nova tecnologia sem comprometer o bem-estar dos estudantes e dos educadores. O primeiro requisito é que a inteligência artificial seja confiável antes de ser integrada no currículo.


Além disto, é preciso compreender quais dados pessoais são tratados e por onde trafegam, identificando, detalhadamente, os fluxos existentes no interior e no exterior da instituição de ensino.


Entender o impacto ambiental das novas tecnologias (na formação e utilização intensiva de energia de sistemas de IA, por exemplo) é igualmente importante. O relatório demonstra que a transformação digital da educação e da sociedade não deve ser efetuada às custas de danos ao meio ambiente. Ou seja, é preciso implementar o debate e as ações no sentido do uso consciente dos recursos naturais para gerar tecnologia sem gerar escassez para as futuras gerações.


Enfim, mediadas pela IA, veremos mais e mais interações entre o mundo virtual e o setor da educação, o que exigirá uma atenção – sem precedentes, nas palavras do relatório - das políticas educativa, digital, ambiental e industrial. E em especial da industrial, especificamente em relação à regulamentação da estruturação dos mercados e dos processos de inovação.


E se no passado as sete artes liberais - gramática, lógica, retórica, aritmética, geometria, música, e astronomia - eram consideradas as habilidades fundamentais de pensamento e formaram a base para a nossa atual educação, na idade da IA generativa, habilidades essenciais como escrita, matemática, comunicação e conhecimento sobre o mundo precisarão ser repensados e todos nós precisaremos estar abertos para uma desconstrução, reconstrução e construção de nossos próprios saberes.


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