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Fiocruz considera prematuro retorno às atividades escolares

Atualizado: 25 de nov. de 2020

A Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz divulgou, no dia 20 de julho, novo documento sobre o retorno das atividades escolares.

A instituição apresenta um panorama epidemiológico para melhor compreender a pandemia no país e, apontando trabalhos de variadas fontes, atesta prematura – de uma maneira geral - a reabertura das escolas em todo o país.


A volta às salas de aula pode representar um perigo a mais para idosos ou adultos com problemas crônicos de saúde que vivem na mesma casa que crianças e adolescentes em idade escolar: cerca de 9,3 milhões de brasileiros (4,4% da população total), número obtido a partir de análise feita com base na Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013) realizada pelo IBGE em parceria com o Laboratório de Informação em Saúde da Fiocruz. São Paulo é o estado com maior número absoluto de pessoas nessa situação, seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia.


É fato que o retorno das aulas presenciais vem sendo anunciado de forma gradativa e de maneira diferente entre os estados da federação, mas, ainda que escolas, colégios e universidades adotem as medidas de segurança (e que elas sejam cumpridas à risca, o que é bastante difícil), há o problema do transporte público e a falta de controle sobre o comportamento de adolescentes e crianças.


Caso contaminados, podem levar o vírus Sars-CoV-2 para dentro de casa e infectar parentes idosos ou que tenham comorbidades e/ou outras condições de vulnerabilidade à Covid-19.


O panorama epidemiológico

Quando o documento da Fiocruz foi publicado, o Brasil entrava no quinto mês da pandemia com mais de dois milhões de casos e quase 80 mil óbitos. Desde então estamos em um platô com poucos sinais de descida e com 1/3 dos Estados ainda com aumento de casos e mortes. Hoje estamos beirando os 97,500 mil mortos, com uma média diária de mil mortes.


Como ainda não existem medidas medicamentosas como vacina ou tratamento específico, a política do distanciamento social é a medida não farmacológica mais amplamente utilizada em todo o mundo para o controle da pandemia. Associado a medidas de vigilância e ampla testagem com identificação precoce de casos e contatos, o distanciamento social é uma das únicas opções que restam ao nosso comando.


E, diga-se, opção amparada por estudos verificados mundialmente, valendo citar, por oportuno, o artigo do Prof. Carlos Henrique de Brito Cruz, publicado na Revista Brasileira de Epidemiologia: "Distanciamento Social no estado de São Paulo: uso de série temporal dos óbitos devidos à COVID-19 para demonstrar a redução de casos". O PDF do artigo pode ser obtido acessando a Revista Questão de Ciência, linkado no texto "Apresentação correta de dados indica benefício do isolamento social em SP", de Marcelo Yamashita.


Enfim, a necessidade e a eficiência do distanciamento social na redução do número de óbitos pela COVID-19 é um fato cientificamente comprovado.

O panorama da Fiocruz também aponta que em 2020 houve um aumento significativo de casos e mortes, muito acima da série histórica, da síndrome respiratória aguda grave (SRAG), o que pode revelar a subnotificação de casos de Covid-19. Afinal, há pouca disponibilização de testes no Brasil.

A instituição frisa que em várias localidades em que a pandemia retrocedeu houve o retorno de atividades econômicas de maneira precipitada e que o retorno das atividades escolares é um passo ainda mais importante, que pode acarretar uma mudança drástica no cenário local.


É crucial, mais uma vez, que as orientações dos especialistas para cada município e território sejam respeitadas: o país continental não admite uma solução única em tempo e circunstância. O Brasil encontra-se em diferentes momentos da pandemia nos estados, conforme mostram os dados trazidos pela Fiocruz. Inclusive, a interiorização da doença está se iniciando agora e em muitos locais onde a rede de serviços não está preparada para garantir o acesso de todos.

Ainda sobre isolamento e contágio, o índice de isolamento ideal no curso de uma pandemia é acima de 75% e vários países da Europa o mantiveram por mais de duas semanas.

“No Brasil, nunca atingimos este índice e ficamos nos últimos três meses abaixo de 50%, na média, o que significa funcionamento de atividades consideradas não essenciais contribuindo para aumento de casos e óbitos. Quanto ao contágio, a taxa representada pelo R, deve estar abaixo de 1,0, sendo o ideal 0,5, quando a curva de contágio estará em queda, necessária para frear o avanço da pandemia e retornar atividades escolares.” (trecho do documento sobre retorno às atividades escolares no Brasil em vigência da pandemia Covid-19 – 20/07/2020)


Informações sobre COVID-19 em crianças


De acordo com o relatório da Fiocruz, a apresentação clínica da COVID-19 varia nas crianças de acordo com as faixas etárias. Outros sintomas, como alterações gastrointestinais podem estar presentes além da síndrome gripal. Apesar da doença ter sido detectada há muito pouco tempo, já existem vários estudos na literatura científica sobre COVID-19 em crianças e devem ser considerados neste momento em que há essa expectativa de retomada de aulas presenciais em grandes cidades do país.

A apresentação completa do estudo com a maior coorte retrospectiva de pacientes pediátricos com COVID-19 relatados até o momento pode ser visualizada na página da instituição, mas já adiantamos que os dados mostram que a soma de quadro leve e moderado somam 89% e que esse dado é preocupante pelo fato de o acesso ao sistema de saúde no país ser muito desigual, o que poderia aumentar o número de casos graves e críticos. E ao contrário do que o senso comum pode acatar, o estudo mostra que a gravidade é maior nas faixas etárias menores, como ocorre nas demais viroses respiratórias em crianças.

Conclusões e recomendações da Fiocruz nesse momento

É fato que a maioria das pessoas que se contaminam, ou seja, algo em torno de 80 %, são assintomáticas ou passam pela COVID-19 com sintomas leves. Aproximadamente 20% apresentam sintomas gripais e 5% agravam o estado de saúde, podendo necessitar de internação em leitos intermediários ou leitos de UTI.

As crianças e jovens são menos propensos a quadros graves, mas podem ser portadores do vírus na cadeia de transmissão, colocando em risco de gravidade e morte as populações adultas, idosos e portadores de comorbidades. E ainda que crianças e jovens tendam à higidez, há aqueles que vão adoecer e evoluir necessitando de internação e UTI infantil.

Quando um município autoriza a reabertura escolar, precisa garantir que tanto escolas públicas quanto as privadas apresentem seus planos específicos para tal, planos que devem ter 3 momentos:

1. Planos e protocolos antes de reabrir

2. Monitoramento durante a abertura

3. Abertura com possibilidades de retorno ao isolamento

Nesses protocolos há a necessidade de se prever monitoramento e controle de casos, atenção redobrada para os alunos especiais e política de abordagem psicossocial e saúde mental. E o ideal é que a autorização tenha passado pelo crivo de especialistas multidisciplinares, como epidemiologistas, infectologistas, pneumologistas, pediatras e outros que possam acompanhar e monitorar todo o processo pandêmico.

Em várias grandes cidades brasileiras, tendo o Rio de Janeiro/RJ sido especificamente citado no material, diante da possibilidade de possível aumento de casos e óbitos, ainda parece prematura a reabertura das escolas.

Nota técnica 12/20

A Fiocruz também divulgou a nota técnica Populações em risco e a volta às aulas: Fim do isolamento social, que alerta para o fato de que “a discussão sobre a retomada do ano letivo no país não segue um momento em que é clara a diminuição dos casos e óbitos e ainda apresenta um agravante, que é a desmobilização de recursos de saúde e o desmonte de alguns hospitais de campanha”. 

O instituto reforça que a maioria dos milhões de brasileiros em grupos de risco e que têm algum estudante dentro de casa vinha se mantendo em isolamento social e que a volta às aulas pode representar uma perigosa brecha nesse isolamento. Se apenas 10% dessa população específica precisar de cuidados intensivos serão cerca de 900 mil pessoas na fila das UTIs. E se aplicarmos a taxa de letalidade brasileira nesse cenário, serão aproximadamente 35 mil novos óbitos somente entre os indivíduos do grupos de risco. 


Os dados sobre a população de risco podem ser consultados no sistema MonitoraCovid-19.


Enfim, a situação nas regiões e estados do país é bastante heterogênea e, portanto, dados nacionais gerais não são bons indicadores para definição de ações locais de uma maneira geral.

Cada região, estado e município precisa se pautar nos trabalhos científicos para definir o momento adequado e focar na reabertura escolar em fases graduais e paulatinas, sempre com expectativa de retorno à etapa anterior. Observando exemplos e aprendendo com a experiência já adquirida.


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