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Instituições de ensino são aliadas na promoção da educação digital e saúde mental

A inclusão da categoria Internet Gaming Disorder no DSM-5, na 11ª edição do documento International Classification of Diseases em 2018, pela Organização Mundial da Saúde, definiu um novo transtorno de saúde. Em português, o documento é chamado de Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (ou pela sigla CID) e a inserção do game disorder (ou transtorno dos jogos eletrônicos) demonstra a importância que a comunidade científica tem dado ao assunto e estimula, sem sombra de dúvidas, o desenvolvimento de novos estudos.


No texto A dependência de Jogos Eletrônicos em crianças e adolescentes, do grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas – GEAT, publicado pela Revista Brasileira de Psicoterapia, são descritos os sintomas do vício, observando-se que o transtorno é prevalente principalmente entre os jovens, cujas vidas ficam significativamente prejudicadas.


Fato que a indústria dos games é hoje mais lucrativa que a indústria do cinema, ficando atrás, em termos de transações financeiras, somente da indústria bélica e automobilística.

Também é fato que muitos estudos relacionam o uso de jogos eletrônicos com uma maior facilidade de aprendizado, o desenvolvimento de habilidades afetivas, cognitivas e motoras, e a facilitação da socialização. Há uma série de relatos de benefícios na educação, inclusive, dentre eles estímulo ao raciocínio lógico, tomada de decisões mais rápidas e fortalecimento do trabalho em equipe.


Porém, como os jovens têm passado um longo tempo diário dedicado aos games, existe uma preocupação que em alguns indivíduos gere prejuízos na saúde física, mental, nos relacionamentos afetivos e no desempenho acadêmico.


O diagnóstico da dependência, de acordo com o artigo citado, é bastante complexo e deve ser realizado de forma criteriosa e minuciosa. Costuma-se valorizar a presença de prejuízo importante na vida do jovem, o que inclui a queda do rendimento escolar ou acadêmico como um dos marcadores do transtorno. Realmente, como o dependente se entrega ao jogo por muitas horas durante o dia, afasta-se da família, dos amigos e, obviamente, diminui as horas de estudo, contribuindo para a piora significativa do rendimento escolar. Também é comum que muitas horas noturnas sejam gastas neste processo, desgastando o sono do indivíduo.


De acordo com o mesmo estudo, a propósito, ainda não há nenhuma medicação comprovadamente eficaz como forma de tratamento. O que se medica é uma eventual comorbidade psiquiátrica concomitante – e passível de ser tratada com essa abordagem - o que pode contribuir no prognóstico da dependência de jogos eletrônicos. A psicoterapia é considerada necessária, inclusive para reestabelecer o funcionamento acadêmico.


Os pais têm a possibilidade de perceber primeiramente a existência de algum prejuízo, permitindo uma intervenção o mais precoce possível a fim de auxiliar a criança ou adolescente, o que não afasta uma intervenção da escola e do professor, que podem notar a mudança no comportamento do aluno, seja em sala de aula ou em razão da redução do rendimento acadêmico. As instituições de ensino, afinal, são aliadas das famílias na educação digital e também na promoção da saúde mental e não raras vezes são as responsáveis por alertar as famílias sobre possíveis aflições e tribulações de seus estudantes.


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Sociedade Brasileira de Pediatria


A Sociedade Brasileira de Pediatria – mais especificamente seu Departamento de Adolescência – possui um Manual de Orientação direcionado para as escolas, educadores e pais. São informações sobre como lidar com as situações da rotina virtual que já faz parte da vida de muitos pais, inclusive os nativos digitais que por vezes não percebem as mudanças ou problemas que os cercam.


Para as instituições de ensino


Nas instituições de ensino, informação é a palavra chave. Gestores, educadores e professores devem ser informados de modo adequado e detalhado sobre o uso ético, saudável e com segurança das tecnologias e aplicativos durante o tempo de convívio com as crianças e adolescentes nas escolas e cursos.


Devem ser realizadas atividades com os alunos e palestras de prevenção e proteção de todos, estabelecendo regras e limites no contato diário entre professores-alunos, alunos-alunos, alertando-os sobre mensagens e encontros com desconhecidos com o uso das tecnologias.


Debates e conscientização sobre o dever de respeito aos direitos autorais das fontes pesquisadas nas tarefas escolares, sem adotar a prática do “copia-e-cola” ou “baixar” materiais da Internet sem a devida citação da fonte também devem ser adotados, incentivando, em seguida, que os próprios alunos, tutelados pelos professores, produzam materiais educativos e proativos sobre o uso adequado das tecnologias digitais em atividades culturais como teatro e artes ou ações de protagonismo juvenil.


A Sociedade Brasileira de Pediatria alerta que temas difíceis e complexos como sexualidade e exploração sexual online, comportamentos de violência, cyberbullying, uso de drogas, “brincadeiras e desafios perigosos” devam fazer parte do currículo escolar e da programação da escola em atividades ou palestras de promoção de saúde e prevenção de riscos e que, se necessário, sejam convidados pediatras especialistas em adolescência, ou consultar a SBP para o profissional mais recomendado em sua cidade.


A instituição de ensino e seus professores devem se informar e procurar sempre se atualizar sobre as novas tecnologias disponíveis e como aproveitar os materiais disponíveis online para estimular a criatividade e o trabalho em equipe e em redes, entre todos. Ou seja: fazer da tecnologia uma ferramenta de ensino-aprendizagem que fortaleça o vínculo de respeito e de diálogo com o aluno sobre cidadania digital.


Estar atento aos sinais de riscos pessoais, sociais ou digitais que o aluno possa apresentar é tarefa da escola. Nesse caso, os pais devem ser convocados para uma conversa e troca de informações.


Dicas interessantes para as instituições de ensino


  • Atualizar materiais, programas e aplicativos educativos e sempre conversar com os alunos sobre os conteúdos que estão acessando ou servindo para pesquisas ou produção de conhecimentos, e assim aproveitar dos benefícios das tecnologias e, ao mesmo tempo, assegurando a máxima proteção possível para todos, na escola, que é um espelho ou microcosmos da sociedade “real”.

  • Estabelecer redes intersetoriais com os pais e com as referências profissionais de especialistas para a proteção de sua escola e deixar sempre em local visível como denunciar casos de violência, sexting ou cyberbullying ou qualquer outro problema, no disque-denúncia tel. 100 ou acessando a rede SAFERNET www.new.safernet.org.br

  • Redigir diretrizes de comportamento e relacionamento social com ética e segurança para todos os professores e funcionários das escolas que participam de redes sociais, como Facebook, Snapchat, Instagram e outras, sobretudo na interação com alunos, crianças/ adolescentes e familiares ou em fotos que possam expor ou constranger em público. Funcionam como códigos de conduta entre todos que convivem com a rotina escolar e o “mundo externo e real”.


A família não pode ficar de fora


Os pais, obviamente, devem conversar com seus filhos sobre a internet e também sobre as redes sociais e quais os sites que são mais apropriados, de acordo com o desenvolvimento e a maturidade de cada um, compartilhando o uso positivo das tecnologias digitais nas tarefas de rotina ou lazer, sem invadir os espaços e as mensagens de cada um.


Ainda de acordo com o Manual, a família deve fazer uma lista de sites recomendados, conversar sobre os perigos e riscos da Internet ou encontros com pessoas desconhecidas em redes sociais ou fora delas. Deve verificar a classificação indicativa para games, filmes e vídeos e conteúdos recomendados de acordo com a idade e compreensão de seus filhos, em normas técnicas e guias práticos, hoje tudo de fácil acesso online.


Regras e limites bem claros e “concordantes” entre todos sobre o tempo de duração em jogos por dia ou no final de semana e sobre a entrada e permanência em salas de bate-papo ou em redes sociais ou durante os jogos de videogames online devem ser estabelecidos e jamais devem ser fornecidos cartões de crédito de uso pessoal.


A conversa franca com os filhos é sempre a chave para caso exista qualquer mensagem “ofensiva, discriminatória, esquisita, ameaçadora ou amedrontadora, desagradável, obscena, humilhante, confusa, inapropriada ou que contenha imagens ou palavras pornográficas ou violentas, típicas das redes de intolerância ou ódio e como fazer para bloqueá-la”, recomendando-se, obviamente, que os filhos jamais forneçam a senha virtual a quem quer que seja, nem aceitem brindes, prêmios ou presentes oferecidos pela Internet, assim como também jamais devem ceder a qualquer tipo de chantagem, ameaça ou pressão de colegas ou de qualquer pessoa online.


Dicas interessantes para os pais e/ou responsáveis


  • Evite postar fotos de seus filhos para pessoas desconhecidas ou público em geral. Aprenda sobre os meios de configuração de privacidade e selecione como enviar fotos, vídeos ou mensagens. Existem vários sites e aplicativos que ensinam sobre segurança online.

  • Crie tempo sem o uso das tecnologias. Planeje as refeições sem qualquer uso de equipamentos à mesa. Planeje atividades de finais de semana ou férias fora e longe do wifi ou de computadores e celulares ou limite o tempo de uso para 1-2 horas/dia para todos, sem esquecer das atividades ao ar livre e em contato com a natureza para prevenção da saúde física e mental/comportamental de todos da família.

Constam das indicações a necessidade da participação das famílias nas atividades da escola e da comunidade e também a criação de redes de proteção e segurança online com amigos e conhecidos para todas as crianças e adolescentes de sua vizinhança ou de seu bairro ou na sua cidade. Os adultos, como modelo de referência que são, devem dar o primeiro exemplo, limitando o seu tempo de telas em casa, seja por trabalho ou diversão. Desconectar e estar presencialmente com seus filhos, nos dizeres do Manual da SBP.


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