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A transformação digital nas Instituições de Ensino Superior


Transformação digital é a incorporação do uso da tecnologia digital às soluções de problemas tradicionais. Mais especificamente nas Instituições de Ensino Superior, vem sendo observada nas últimas décadas e agora, com a pandemia da Covid-19, foi amplificada e agilizada. Como ela tem ocorrido (ou deveria ter) exatamente?


Luciano Sathler, doutor em Administração e reitor do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix em Belo Horizonte (MG), em seu artigo Transformação Digital em Instituições de Educação Superior, publicado no livro Docência no Ensino Superior em Tempos Fluidos, nos fornece algumas respostas.


Ele inicia seus apontamentos pela constatação de que a crise fiscal pela qual passamos tende a se agravar, o que provavelmente gerará maiores restrições orçamentárias para as universidades. Isso sem contar que tais instituições terão muitos custos extras para garantir uma reabertura segura para a comunidade escolar e ainda manter a continuidade do EAD, pela necessidade do retorno com o ensino híbrido. Muito provavelmente as IES privadas sofrerão com o aumento da evasão e da inadimplência, assim como a menor demanda de novos alunos; afinal, houve aumento do desemprego e a queda na renda das famílias.


Enfim, em março de 2020, com o decreto da pandemia, as IES viram-se diante da necessidade de migrarem em massa para o chamado ensino remoto emergencial. Foi e continua sendo uma situação complexa, já que, pelo menos num primeiro momento, havia professores inexperientes e com suporte insuficiente.


Segundo o professor Sathler, a sala de aula exposta, característica da educação a distância, ajudou a demonstrar o quanto a abordagem tradicional tem sido profundamente falha. Neste ponto, ele cita o modelo praticado na educação presencial pela maioria dos sistemas educacionais, que ainda se baseia nas demandas da Sociedade Industrial, ou seja, admite aulas “padronizadas, unidirecionais, centradas no professor e no silencio obsequioso dos alunos”.


Fato que tanto a organização do currículo, como a estrutura hierárquica cristalizada na escola, que, para o pesquisador, desestimula a participação de alunos e da comunidade, são características anteriores à nossa atual Sociedade da Informação. Sua crítica está neste ponto: vivemos a Sociedade da Informação, mas a educação ainda é gerida como se estivéssemos servindo as demandas da Sociedade Industrial.


Em sua opinião,


“Os sistemas educacionais permanecerão expostos e vulneráveis se pensamos em simplesmente reverter ao que fazíamos antes da crise do campus vazio ou se nos basearmos diretamente no que estamos emergencialmente praticando.”


A transformação digital nas IES


No artigo em análise, o pesquisador aponta que as IES ainda terão um papel mais central na gestão e modelagem da transformação digital que será adotada pelas organizações privadas e órgãos governamentais, pois seu potencial de digitalização não está apenas na entrega do EAD, mas também em sua força integradora, que pode e deve alinhar a Educação Superior com as demandas da Sociedade da Informação.


Não podemos pensar que a digitalização é apenas a conversão de texto, imagem ou som em um formato digital, pois a Internet e as redes são meios que reúnem diferentes tipos de informações. Ou seja, aplicar novas tecnologias digitais é também compreender como elas se relacionarão com todas as outras práticas sociais. Todos os setores da sociedade precisam se beneficiar da transformação digital da sociedade.


O que é bastante interessante no texto do professor Luciano Sathler é o reforço de que não devemos imaginar que exista apenas um modelo de EAD no futuro: o cenário da Educação Superior precisará ser diversificado e apresentar caminhos alternativos aos estudantes. Afinal, o modelo linear de educação, emprego e carreira na mesma profissão não tem sido mais uma realidade para a maioria das pessoas. Ao contrário: hoje se exige uma flexibilidade do formando, que precisa desenvolver vários tipos de habilidades e adquirir várias experiências.


O ideal é que as Instituições de Ensino, dentro desse processo de transformação digital, consigam adaptar o conteúdo dos estudos universitários às procuras sociais, melhorando a sua qualidade e competitividade através de uma maior transparência e uma aprendizagem baseada no estudante, o que não é simples de se realizar, pois é preciso decidir o que deve ser priorizado e alinhar ensino, pesquisa e extensão com as demandas reais as quais mencionamos.


Na prática, de acordo com o texto citado, a gestão da IES deve focar em ações estratégicas fundamentais que apontem na direção pretendida e precisa contar com a legitimação perante as partes interessadas, especialmente o corpo docente, estudantes e colaboradores técnico-administrativos que compõem a comunidade interna. O processo de mudança, portanto, precisa ser articulado com o contexto e o conteúdo da mudança.


A experiência com o EAD


Já ficou bastante claro que não existe EAD de boa qualidade com a mera reprodução dos processos praticados no presencial. Nós mesmos já alertamos algumas vezes que as aulas remotas hoje praticadas não são exatamente EAD.


Tão somente replicar o modelo presencial de forma remota amplia os prejuízos na aprendizagem, agora infelizmente piorados pela desigualdade de acesso às tecnologias da informação, com impactos negativos maiores para os estudantes mais pobres.


De acordo com o autor do texto analisado, o ensino não presencial deveria se beneficiar de uma “experiência de aprendizagem cooperativa, quando estudantes são convidados a usarem as redes digitais para criarem seu próprio conteúdo, colaborarem entre si e participarem de comunidades virtuais de aprendizagem, no que se torna uma poderosa ferramenta de engajamento e auto-organização”.


Para ele, a maioria dos modelos de EAD hoje praticados não nos serve mais nesta época em que imaginação, cuidado e consciência são necessários para resolver os grandes problemas do mundo e não há melhor momento de mudar isso do que na resposta ainda emergente à pandemia atual.


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Inovação e perspectivas para o futuro


A transformação digital nas Instituições de Ensino Superior pede a chamada “inovação aberta’, termo cunhado por Henry Chesbrough e que significa gerir a instituição utilizando-se de ideias internas e externas, ou seja, incorporando esforços conjuntos de iniciativas tanto internas quanto externas à organização durante os processos de mudanças.


Seria uma espécie de troca de conhecimento entre a própria instituição de ensino e famílias, empresas, organizações sem fins lucrativos e governos na construção de uma nova concepção de escola, o que já foi preconizado, nas palavras do autor, pelo Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, bastante atual, por sinal.


Também recomenda-se uma articulação com empresas nascentes de base tecnológica que se dedicam a desenvolver soluções para a educação. Muitas oferecem soluções para a Educação Básica – Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.


Enfim, a pandemia acelerou a adoção em massa das ferramentas tecnológicas e também dos diferentes modelos de interação mediada pelo digital: a população em geral foi compelida a experimentar o trabalho remoto, o EAD e o e-commerce em uma escala inédita.


Ninguém, quer seja uma instituição de ensino, quer seja um empreendimento comercial, se manterá relevante se não aceitar essa transformação digital como definitiva e não repensar sua atuação, seus serviços e produtos. A Sociedade da Informação requer uma cultura de participação e a Geração Internet, dos Millenials, precisa de novas formas de aprender.


O autor sabiamente lembra que a tela entre nós pode ser uma janela ou uma porta pela qual podemos nos encontrar para manter contato e preservar nossa humanidade; isto tanto apesar do digital quanto em razão dele.


E que a transformação digital é mais do que transpor a sala de aula para as telas: é aceitar a necessidade de mudança no modelo de ensino para, então, transformar esta tela em um espaço no qual os professores passam a agir como intermediários entre os estudantes e o conhecimento.


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