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A evasão escolar causada pela pandemia

De acordo com pesquisa recente da C6 Bank/Datafolha, 4 milhões de brasileiros abandonaram a escola já no primeiro ano de pandemia Covid-19. Os dados foram coletados no período entre 30 de novembro e 09 de dezembro de 2020, ouvidas 1670 pessoas das redes pública e privada.


A suspensão das aulas presenciais e problemas financeiros estão entre as principais causas da evasão e o ensino superior foi o mais afetado; a desistência, como já se esperava, foi maior nas classes D e E.


O impacto imediato em 2020 foi, obviamente, a cessação temporária de atividades presenciais, o que deixou estudantes, principalmente os de graduação e aqueles prestes a entrar na educação superior, sem uma ideia clara da continuidade de seu aprendizado e de como seriam os encargos financeiros suportados, somada às preocupações com o isolamento social e a (falta de) conectividade à internet.


Os alunos tiveram que reorganizar suas rotinas para se ajustarem a uma situação de confinamento: a perda do contato social e da socialização, que fazem parte da experiência diária, também trouxeram um custo ao equilíbrio socioemocional. Alunos com problemas pré-existentes neste domínio sofreram ainda mais.


Muitas instituições de ensino puderam ofertar o EAD – inclusive de forma emergencial –, o que foi muito benéfico, mas também escancararam o problema da baixa conectividade. Como já expusemos em texto anterior, calcula-se que 67% dos brasileiros têm acesso à internet, mas o acesso em alta velocidade a partir de dispositivos como computadores ou tablets é mais restrito às classes A e B. Entre as classes D e E esse número despenca para 42%, normalmente feito via celular, com internet limitada. Estima-se também que 70% dos moradores das cidades estão conectados, mas, nas áreas rurais, somente 44% dos moradores tem acesso à internet e a lógica da disparidade é a mesma: também nas áreas rurais o conectado é o cidadão das classes A e B. O mais pobre é excluído.


A pesquisa do final de 2020 concluiu o que já se previa, inclusive pela própria UNESCO, ainda em abril do mesmo ano. Naquela ocasião o organismo internacional publicou um documento chamado “COVID-19 y educación superior: De los efectos inmediatos al día después . Análisis de impactos, respuestas políticas y recomendaciones”. Sobre ele nos debruçamos e trouxemos as principais ideias e constatações.


Leia:




A crise da covid-19 afetou, enfim, a permanência dos estudantes brasileiros nas escolas e faculdades. 4 milhões, entre 6 e 34 anos, deixaram de estudar em 2020. A taxa de abandono escolar ficou em 8,4% e 17,4% dos estudantes não pretendem voltar neste ano de 2021.


A desistência foi maior entre as classes sociais mais baixas, também como era esperado: 54% maior entre os alunos das classes D e E (10,6%) na comparação com estudantes das classes A e B (6,9%). Segundo a pesquisa C6 Bank/Datafolha, o abandono foi maior no ensino superior: 16,3% deixaram de estudar. No ensino médio o número chega a 10,8% dos entrevistados e, no ensino fundamental, 4,6%.


Impactos sociais


Já sabíamos que milhares de estudantes não conseguiriam continuar os estudos, seja pela escola não propiciar o ensino remoto, seja pela inviabilidade de acessar o conteúdo ou pela necessidade de, em plena pandemia, trabalhar para ajudar a família em desespero econômico.


A pesquisa determinou que os problemas financeiros estão entre as principais causas dessas desistências em 2020. Dos estudantes que revelaram essas dificuldades, 19% não tiveram mais condições de pagar a escola ou faculdade e 7% precisaram ajudar na renda familiar. Outros 22% afirmaram que o abandono se deu por terem ficado sem aulas e os 20% restantes relataram dificuldade com o ensino remoto.


E a evasão escolar afeta a economia do país, os índices de violência e até a expectativa de vida da população. Segundo pesquisa da Fundação Roberto Marinho, quanto mais escolaridade mais expectativa de vida, e, a cada jovem que abandona a escola, o país perde R$ 372 mil. Apenas a redução de um ponto percentual nos índices de evasão já pode evitar cerca de 550 homicídios por ano.


Para um país cujas projeções já são de encolhimento na economia, vide informações do Fundo Monetário Internacional, a situação é de extrema gravidade e trará consequências graves para os governos e sociedade.


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Como dissemos, o pior índice de abandono escolar ocorreu no ensino superior (16,3%) e a principal razão foram as dificuldades financeiras. Em segundo lugar a dificuldade de acesso às aulas remotas. Os dados mais específicos dão conta de que, na universidade, 42% daqueles que abandonaram os estudos o fizeram por falta de condições de pagar as mensalidades.


Na educação básica, por sua vez, o principal motivo foi a precariedade da manutenção de aulas e, entre os que deixaram os estudos, 17,4% dizem não ter intenção de retornar neste ano. A taxa sobe para 26% dos que estavam no ensino médio.


A Organização Mundial de Saúde também já havia feito o alerta: com o necessário fechamento das instituições educacionais, a expectativa era que a medida causasse um risco sem precedentes para a educação, a proteção e o bem-estar infantil e que, quanto mais tempo as crianças, principalmente as mais vulneráveis socialmente, permanecessem fora da escola, menor seria a probabilidade de retornarem.


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É preciso ter em mente que a pesquisa que ora se comenta é uma sondagem da situação brasileira, que ainda carece de estatísticas oficiais. Mas ela já apresenta taxas superiores aos índices oficiais de abandono registrados na educação básica do país. Como comparação, temos que, em 2019, ano do último dado oficial disponível, o índice de evasão no ensino fundamental foi de 1,2% e, no médio, de 4,8%.


Fato que, desde antes da pandemia da Covid-19 manter os adolescentes na escola e (ainda mais) com alto nível de aprendizagem sempre foi um desafio. E se em 2019 já houve estagnação nos indicadores educacionais relacionados a taxas de alfabetização de jovens, alunos em escolas de tempo integral, educação profissional e acesso à universidade, com a pandemia e todas as áreas da educação no país afetadas (além do enfraquecimento do MEC diante da questão fiscal vivida), os próximos resultados oficiais são uma verdadeira incógnita.


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Rematrículas em escolas privadas


As famílias, de um modo geral, temem o que pode ocorrer em 2021. Portanto, já era de se esperar que houvesse uma redução no número de rematrículas nas escolas privadas. Segundo dados do Grupo Rabbit, apresentados pela Revista Educação em dezembro de 2020, o número de rematrículas nas escolas privadas foi de 46% entre os meses de setembro e novembro de 2020, quase 20% a menos registrado no mesmo período de 2019, que foi de 65%.


A pesquisa também demonstrou que, mesmo com a queda do número de rematrículas, a perda de alunos entre setembro e novembro foi de apenas 4%, o que quer dizer que 4% dos pais/alunos declararam à época que não rematriculariam seus filhos nas escolas em que estavam. O índice não era alto, mas 50% das famílias ainda não tinham decidido a respeito.


O que temos no momento é o Censo Escolar 2020, divulgado no final de janeiro de 2021, que indicou a redução de 1,2% no total de matrículas no ensino básico. Ao todo, foram registradas 47,3 milhões de matrículas no nível básico, cerca de 579 mil matrículas a menos em comparação com 2019. Os dados fazem parte da primeira etapa da pesquisa estatística elaborada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).



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O cenário imposto pela pandemia era esperado e não resta alternativa senão os governos e as organizações da sociedade civil provarem sua força para atenuar as sequelas. Algumas redes públicas de ensino básico têm implementado iniciativas como busca ativa dos estudantes evadidos, têm melhorado a infraestrutura para promoção do ensino híbrido e realizado estudos sobre a avaliação diagnóstica que irá estruturar os impactos deste período na aprendizagem.

Mapear os problemas, analisá-los e construir práticas que reduzam os prejuízos são o caminho. Sem esquecer a necessidade de se cobrar investimento do poder público. Sem financiamento não há como gerir políticas públicas educacionais adequadas.




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