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Ana Luiza Santos e Edgar Jacobs

O Censo da Educação Superior de 2020

A conscientização e o aprendizado sobre o EAD vinham acontecendo gradualmente ao longo dos anos quando a pandemia da covid-19 provocou uma verdadeira reviravolta no cenário educacional. Como ocorreu com o home office, a mudança repentina acelerou as tendências que se tornariam realidade apenas ao longo dos próximos anos. Em relação a empresas e escolas, o que não fizeram em aproximadamente cinco anos, fizeram em cinco semanas. O cenário trouxe urgência e em muitos pontos o resultado foi bom.


Da mesma forma que a maioria das empresas, por necessidade ou conveniência para todos os atores do processo educacional, a escola também vai manter os recursos tecnológicos adquiridos; tudo no intuito de reduzir as barreiras entre o presencial e o online.


De acordo com uma pesquisa realizada pela Toluna para a América Latina, muitas pessoas manterão os costumes adquiridos durante o isolamento social quando a pandemia arrefecer; frequentar cursos online é um deles. E é o que já demonstra o Censo da Educação Superior de 2020, cujos dados foram liberados pelo governo federal em meados de fevereiro.


Alguns dados interessantes da atualidade trazidos pelo Censo – 2020


No Brasil, 87,6% das instituições de educação superior são privadas. Há 304 IES públicas e 2.153 privadas Em relação às IES públicas, 42,4% estaduais; 38,8% federais e 18,8% municipais. A maioria das universidades é pública e entre as IES privadas, predominam as faculdades.


Quase três quintos das IES federais são universidades e 33,9% são Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets).


São 2.457 Instituições de educação superior no Brasil (atente-se que os dados são de 2020), das quais 77% são faculdades. As 203 universidades existentes no Brasil equivalem a 8,1% do total de IES.


Por outro lado, 54,3% das matrículas de graduação estão concentradas nas universidades. Apesar do alto número de faculdades, nelas estão matriculados apenas 16,2% dos estudantes de graduação.


Em 2020, 41.953 cursos de graduação e 25 cursos sequenciais são ofertados em 2.457 IES no Brasil. Em média, as IES oferecem 17,1 cursos de graduação Só 3,2% das Instituições de Educação Superior (IES) oferecem 100 ou mais cursos de graduação; um quarto delas ofertam até 2 cursos de graduação.


O grau acadêmico predominante dos cursos de graduação é o bacharelado e 85,3% dos cursos (de graduação) nas universidades são na modalidade presencial.


Os professores


O típico docente possui doutorado na rede pública enquanto o mestrado é o grau de formação mais frequente na rede privada. Tanto na rede privada quanto na rede pública há mais docentes homens, com idade média, nas instituições públicas, de 39 anos, e nas instituições privadas, de 40 anos.


Os doutores são, portanto, mais frequentes na rede pública, enquanto na rede privada a maior parte é mestre. Em relação ao regime de trabalho, enquanto a praxe dos docentes da rede pública é o regime em tempo integral, na rede privada a maior parte possui tempo parcial.


Alunos – graduação a distância


O típico aluno de cursos de graduação a distância cursa o grau acadêmico de licenciatura. Na modalidade presencial, esse estudante cursa bacharelado. Em relação ao número de estudantes matriculados, o sexo feminino predomina em ambas as modalidades de ensino; sendo o turno noturno o que possui mais estudantes matriculados nos cursos de graduação presencial.


Alunos matriculados em cursos de bacharelado são a maior parte na modalidade presencial. No EaD, predominam os cursos de licenciatura.


Em 2020, foram oferecidos mais de 19,6 milhões de vagas em cursos de graduação, sendo 73% vagas novas e 26,7%, vagas remanescentes. A rede privada ofertou 95,6% do total de vagas em cursos de graduação e a rede pública correspondeu a 4,4% das vagas ofertadas pelas instituições de educação superior. Das vagas remanescentes, 96,5% foram ofertadas por instituições de educação superior da rede privada.


Das novas vagas oferecidas em 2020, 23% foram preenchidas, enquanto apenas 8,3% das vagas remanescentes foram ocupadas no mesmo período. No caso, mais de 80% das novas vagas oferecidas em cursos de graduação da rede federal foram ocupadas em 2020. É o maior índice de ocupação de vagas entre as diferentes categorias administrativas. Em relação às vagas remanescentes, a rede Federal, teve o maior percentual de preenchimento dessas vagas; isso porque quase 90 mil vagas remanescentes ainda não foram preenchidas em 2020.


Com exceção da forma de ingresso em programas especiais, a ocupação na modalidade presencial ainda é maior que na modalidade a distância. O montante de 37,6% das vagas ofertadas nos processos seletivos de vagas novas para cursos presenciais foi preenchido, enquanto na educação a distância menos de 1/5 foram ocupadas. Nos programas especiais, a taxa de vagas ocupadas na modalidade a distância é a mais alta de todas as formas e modalidades. E nas vagas remanescentes a modalidade presencial ocupou 11,6% e a distância 6,1%.


De qualquer forma, o volume de ingressos em 2020 teve um aumento significativo na modalidade a distância e na modalidade presencial uma queda.


O aumento do número de ingressantes entre 2019 e 2020 é ocasionado, exclusivamente, pela modalidade a distância, que teve uma variação positiva de 26,2% entre esses anos, já que nos cursos presenciais houve um decréscimo de -13,9%;


Entre 2010 e 2020, o número de ingressos variou negativamente 13,9% nos cursos de graduação presencial e nos cursos a distância aumentou 428,2%; enquanto a participação percentual dos ingressantes em cursos de graduação a distância em 2010 era de 17,4%, essa participação em 2020 é de 53,4%.


Alunos – números gerais de ingressantes


Perceba que, em 2020, quase 3,8 milhões de alunos ingressaram em cursos de graduação. Desse total, 86% em instituições privadas. Em 2020, o número de ingressantes teve um crescimento de 3,6% em relação a 2019; entre os anos de 2019 e 2020, houve uma queda no número de ingressantes na rede pública e a rede privada continua com a expansão do número de ingressantes.


Em 2019/2020, há uma variação positiva de 5,3%; no período compreendido entre 2010 e 2020, a rede privada cresceu 89,8%. No mesmo período a rede pública aumentou 10,7%.


Em 2020, o número de matrículas na educação superior (graduação e sequencial) continua crescendo, atingindo 8,680 milhões. Em uma década - entre 2010 e 2020 - a matrícula na educação superior aumentou 35,5%: a média de crescimento anual do número de matrículas é de 2,8% a.a.; em relação a 2019, a variação positiva é de 0,9%.


O número de matriculados na rede privada em 2020 continua o ritmo de crescimento; é uma participação de 77,5% no total de matrículas de graduação. A rede pública, portanto, participa com 22,5%.


A rede federal de educação superior


A rede federal de educação superior aumentou gradativamente sua participação no número de matrículas da rede pública ao longo dos anos. Entre 2010 e 2020 o crescimento no número de matrículas foi de 33,6%. No mesmo período, a rede estatual registrou crescimento no número de matrículas de 3,8% e a rede municipal registrou queda. Para facilitar a informação, quase dois terços das matrículas em cursos de graduação da rede pública estão em instituições federais.


Matrículas em cursos de graduação a distância


O número de matrículas na modalidade a distância continua crescendo, atingindo mais de 3 milhões em 2020, o que já representa uma participação de 35,8% do total de matrículas de graduação.


O que temos de dados de 2020 é que o número de matrículas em cursos de graduação presencial diminuiu -9,4% entre 2019 e 2020 e, na modalidade a distância, um aumento de 26,8% no mesmo período, mais que o crescimento registrado no período 2018-2019.


Entre 2010 e 2020, as matrículas de cursos de graduação a distância aumentaram 233,9%, enquanto na modalidade presencial o crescimento foi apenas de 2,3% nesse mesmo período.


Plano Nacional de Educação


Os dados mostram que o número de estudantes no ensino superior no Brasil subiu pouco de 2019 para 2020 e que, provavelmente em razão da pandemia, a quantidade de estudantes em cursos de graduação presenciais caiu 10%. Essa queda anual de matrículas presenciais superou a dos anos anteriores, crescendo – por outro lado - os números relacionados aos cursos de ensino superior da modalidade a distância. A maioria dos cursos a distância é oferecida na rede privada e os dados de 2020 mostram quase três milhões de estudantes neles matriculados.


Um problema, mesmo com a grande oferta e procura dos cursos EAD, de acordo com o Observatório do PNE, é que menos de 25% da população dos jovens em idade universitária estará matriculada no ensino superior até 2024. Como não há perspectivas de mudanças, até porque 2024 não está distante, dificilmente o país conseguirá cumprir as metas do próprio PNE.


Constatações necessárias para orientar políticas públicas, principalmente depois dos conhecidos impactos trazidos pela pandemia na educação, ocorridos em todos os níveis e redes de ensino.

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